O Clube do Século era uma antiga entidade que servia como última linha de frente da humanidade contra forças que procuravam a destruir ou dominar. Seu registro histórico mais antigo foi no final do século 18, mas apesar de mitos dizerem que a presença dos Espíritos do Século (e sua contraparte maligna, as Sombras) vem desde o Império Romano, foi no século 19 que o Clube teve seu apogeu, sua Sede em Londres sendo ponto de partida de missões de descobrimento, reconhecimento e pesquisa, além de depósito e centro de pesquisa de Ciência Exótica. Em seu fim, a Sede de Nova Iorque ainda procurava manter sua missão, até que McCarthy declarou o Clube como uma entidade comunista e os Espíritos do Século agentes comunistas a serem levados ao Comitê do Congresso para Atividades Anti-Americanas, o que provocou a dissolução do Clube.
Os Espíritos do Século, conhecidos também como Centuriões, nascem na virada de todos os séculos, em geral nos primeiros segundos do dia 1º de Janeiro do primeiro ano do Século (no caso do Século 20, 1901), e representam as esperanças e ambições que o século trazem, sendo destinados a grandes feitos visando inspirar a humanidade para uma maior iluminação e liberdade.
Por sua vez, as Sombras do Século nasceram nos últimos segundos do dia 31 de Dezembro do último ano do Século anterior (no caso do Século 20, 1900). Trágicos, mas malignos, eles representam os esqueletos que a Humanidade abandonou no armário na virada do Século, e os monstros que as esperanças do novo século trazem, servindo para a tentar e assombrar. Em geral, são sempre atraídos pelo obscuro e por Aquilo Que O Homem Não Deveria Conhecer, e procuram sempre obter poder para si próprios.
Apesar disso tudo, algumas Sombras podem seguir por um caminho tortuoso e trágico de redenção, ainda que o Mal procure os seduzir, enquanto há casos registrados de Espíritos que caíram em desgraça, abandonando seu manto e descendendo à vilânia. Existe até alguns raros casos onde as lealdade de um Espírito ou Sombra flutuaram conforme necessidades ou conveniências.
Entretanto, os Espíritos e Sombras NÃO SÃO superhumanos. Claro, eles são capazes de feitos acima da média humana, para o bem ou para o mal, e possuem longevidade e vitalidade enormes durante o Século, mas eles são ainda humanos, a morte do antigo Espírito do Comércio Mack Silver comprovando esse fato.
E mesmo com a capacidade de feitos acima da média, sendo apenas humanos, eles possuem fraquezas.
A principal fraqueza dos Espíritos do Século é que eles são atrelados à sua era: uma vez que o Século ao qual eles pertençam tenha se encerrado, rapidamente eles vão perdendo a vitalidade que eles possuíam durante o século, sua aparência envelhecendo rapidamente da aparência de jovens adultos que possuíam para cada vez mais idosos. Em geral um Espírito do Século que viva mais que duas décadas após seu Século é um evento raramente registrado.
Outra fraqueza é que eles não são superhumanos. Embora alguns deles sejam extremamente fortes e resistentes, ainda assim o são quando comparados aos humanos. Portanto, apesar de sua resiliência, ainda assim podem ser mortos por um velho e bom tiro na cabeça.
Como humanos, eles também são falíveis e possuem fraquezas mentais como a de qualquer pessoa, ainda que menores. E seus inimigos, as Sombras, são especialistas em usá-las e possuem um talento e falta de escrúpulos especial para o fazerem.
Por fim, os Espíritos, como quaisquer humanos, não são capazes de vencer um sistema, em especial quando medo, paranoia e desejo de poder coloca-se contra os mesmos.
E foi exatamente o que ocorreu com o Clube.
Diz-se que a 1ª Guerra Mundial seria a Guerra para acabar com todas as Guerras. Entretanto, acabou sendo o estopim para uma Guerra ainda mais demolidora, em todos os sentidos, tanto que mesmo um dos maiores estrategistas do mundo disse que “As Luzes da Europa se apagaram”.
Na realidade, as luzes do nosso mundo acabaram mudando seu foco.
Os Espíritos do Século, ao enfrentarem os inimigos ocultos da Humanidade, não perceberam os movimentos nocivos de algumas das Sombras, que se erguiam como conselheiras insidiosas ao redor do mundo. Todos os governos do mundo Pós-1ª Guerra começaram a receber conselheiros militares que procuravam utilizar-se de suas informações para reduzir o número de perdas em suas fileiras enquanto aumentasse o número de perdas em seus inimigos. O uso do Gás Mostarda durante a Grande Guerra não foi esquecido e o armistício e o Tratado de Versalhes não foi esquecido pelos derrotados, a humilhação servindo de combustível para o ódio.
Justo onde as Sombras mais brilham.
Em muitos países derrotados, as Sombras começaram a se infiltrar e a insulflar a intolerância e a xenofobia do lado dos derrotados, e a soberba e arrogância do lado dos vencedores. Em ambos os lados, a paranoia tornou-se crescente, ainda mais com a Revolução Comunista trazendo de volta a sombra do comunismo como algo a ser temido pelos poderosos da época, que ao invés de entender o Manifesto como um alerta para uma manutenção de um Welfare State que respeitasse os trabalhadores, impedindo assim a revolta popular, o entendiam como um panfleto incendiário da ordem social.
Obviamente com as Sombras atuando para que tal interpretação crescesse, pois a paranoia lhes era favorável: quanto mais desunida a humanidade é, mais eles tem força.
E a coisa só piorou com a ascenção do Nazismo.
A Ascenção do Nazismo e o ataque à Polônia foi o estopim de uma guerra ainda mais sangrenta, onde os dois lados desumanizavam-se mutuamente, prometendo uma situação de Destruição Mútua Assegurada. Apesar da vitória dos Aliados contra o Eixo formado pelos países totalitários da época Alemanha, Itália e Japão, o estrago já estava feito: poucos meses depois o Muro de Berlim promoveu a Guerra Fria e a aceitação de ambos os lados e ambos os interesses de Estados Totalitários, seja os comunistas da Cortina de Ferro do Pacto de Varsóvia, ou os de cunho capitalista, como as ditaduras da África, Oriente Médio e América Latina, onde o sangue dos povos foi usado para a ascenção dos Poderes, sejam Governos ou Corporações.
E os Espíritos do Século não podiam fazer muita coisa.
Os Espíritos do Século nunca foram conhecidos por serem pragmáticos: muitos deles tinham idealismos profundos sobre Certo e Errado, e jamais fariam o Errado “pelo Bem Maior”. Isso os colocou em rota de colisão com muitos dos que pregravam doutrinas como o Divino Manifesto, e isso acabou servindo como fermento político para o que viria em seguida.
Acredita-se que a CIA tenha sido a primeira a descobrir sobre os equipamentos e artefatos místicos poderosos que os Espíritos escondiam: itens obtidos de poderosos inimigos como o Gorilla Khan, o Senhor dos Símios; Jared Brain, o Cérebro Vivo; Der Bliztmann, autodeclarado Eletrik Kaiser (Senhor da Eletricidade); e acima de todos, o enigmático e perigoso Espírito do Milênio Doutor Matusalem, com a sua poderosa e incompreensível matemágica, mistura de magia e ciência. Itens poderosos demais para a humanidade os usar.
Justamente aquilo que mais é desejado em uma Guerra.
Muitos dizem que o Projeto Manhattan na verdade era um plano B para a possibilidade do Clube do Século negar o acesso aos artefatos que tinham em seu poder. Desse modo, pode-se avaliar a destruição que tais itens poderiam provocar.
E o ressentimento que isso provocou entre o Clube do Século e o Governo Americano.
O que justifica a declaração do Senador McCarthy de que a sede Americana do Clube do Século (e por consequência, os Espíritos do Século) eram uma fachada para o “Grande Perigo Vermelho” do Comunismo.
Não ajudava o fato de que várias Sombras estavam se estabelecendo em posições de poder, direta ou indiretamente. Muitos falam que Sombras teriam influenciando tanto McCarthy quanto Edgar J. Hoover, o poderoso diretor-geral do FBI. Há quem diga que a crise da Baia dos Porcos só estourou porque alguma Sombra ficou colocando na cabeça dos principais envolvidos o risco que uma demonstração de força em Cuba poderia resultar no resto da América Latina e, portanto, nos interesses de empresas americanas como a American Fruit Company e a The Texas Company Inc., ou TEXACO como viria a se chamar.
Com isso, os Espíritos tiveram que fugir, muitos procurando se desassociar do Clube, ocultando-se em nomes falsos ou fugindo para outros países, evitando o perigoso e poderoso Comitê de Atividades Antiamericanas, liderado por McCarthy, e sua Caça às Bruxas que levou tantos artistas e pensadores a fugirem dos Estados Unidos, como o caso de Charles Chaplin.
O Comitê já tinha desentendimentos quando o famoso Espírito Benjamin Hu deu uma declaração contundente contra a proposta de campos de internação dos japoneses nos EUA (o que é curioso se você considerar que Hu tem ascenção Chinesa, o que o colocaria - em teoria - oposto a qualquer atividade favorável a japoneses), além das posições de Jackson “Jet” Black contra a ausência de investigações contra a Ku Klux Klan. Mas eles chegaram à conclusão de que tinha que dar um basta.
E com isso, os Espíritos se espalharam: Jet Black desertou no Vietnã; Mack Silver morreu após explodir-se com o Doutor Matusalem, deixando para trás suas Sementes Douradas, tanto na forma de dinheiro para algumas instituições, como a Escola de Engenharia Cross, a Fundação Ariadne e para os Clubes Hu dunnit; e muitos outros nomes cairam nas sombras, como Amelia Stone, Professor Khan (o famigerado “filho” do Gorilla Khan), entre outros, muitos desconhecidos do grande público, nomes sussurrados nas noites como lendas, apagando-se como antigos cartazes de circo.
Mas a caçada não se restringiu aos Estados Unidos: o “Perigo Vermelho” estava em todos os lugares, de acordo com as cabeças paranoicas dos líderes de Estado e CEOs, fomentadas pelas Sombras que usavam isso para colocar um alvo que despistem os Estados de si próprios. O Grande Perigo Vermelho tornou-se um excelente bode expiatório, como foi visto em todas as ações totalitárias na América Latina. Ao mesmo tempo, do outro lado da Cortina de Ferro, o Mal Supremo eram os “Porcos Capitalistas”.
Ninguém quer ouvir.
Ninguém quer conversar.
Todos querem vencer.
Mesmo que isso signifique ser senhor de destroços.
A resposta rápida e óbvia seria “no passado”.
E não é uma resposta totalmente errônea.
Muitos dos Espíritos do Século ainda são procurados por não terem comparecido ao Comitê de Atividades Antiamericanas. Poucos deles se revelaram, e menos ainda por suas identidades verdadeiras. Talvez o mais “conhecido” seja o Infame Heroi Jackson “Jet” Black, dotado de seu jetpack. Ocasionalmente ouve-se sobre intervenção do mesmo em conflitos, lutando por justiça e democracia, ainda que ele tenha sido visto também com forças inimigas dos interesses americanos, como as FARC, os Sandinistas e algumas outras forças de esquerda. Entretanto, houve também intervenções em que ele não se posicionou, como no caso do Afeganistão, onde ele teria sido visto apenas salvando civis, não se envolvendo nem com as forças dos Spetnatz soviéticos ou com os Taleban que nos são aliados.
Muitos acreditam que os Espíritos estejam trabalhando para forças inimigas alienígenas ou para as forças comunistas da Cortina de Ferro, em retaliação ao que sofreram nas mãos das forças democráticas capitalistas.
Esse que escreve tem uma opinião formada de que eles estão escondidos, preparando uma nova geração de heróis, para um mundo cada vez mais confuso.
A Síndrome de Variação Hiperdimensional (VHS) tem sido cada vez mais um problema perceptível por aqueles que estudam a história dos Espíritos do Século, e é de consenso que os Espíritos são parcialmente fonte dos problemas, já que desde muito tempo se foi verificada a presença dos Espíritos em eventos estranhos. Afinal de contas, os ataques do Gorilla Khan, registrados próximo ao local onde o Titanic foi afundado, poderia ser justificado pela presença dos Espíritos… Ou seria a existência do Gorilla Khan definidora da necessidade de existir-se os Espíritos.
E cada vez mais isso vem surgindo: os registros de guerreiros de outras eras e mundos, armas que não deveriam existir com a nossa tecnologia, pessoas desenvolvendo poderes paranormais e místicos, criaturas saídas do folclore e dos mitos para empunharem em armas em nosso mundo.
Tudo isso pode estar demandando novos herois, que precisam de tutores…
E espero, para o bem da humanidade, que os Espíritos do Século ainda existam entre nós para treinar tais heróis.
Caso contrário, o destino da humanidade é muito sombrio.
(Da Introdução de “Histórias e Catalogação dos Espíritos do Século”, fanzine apócrifa que circulou no MIT em 1979, de suposta autoria de James Marconi)