Lendas para #iHunt

O Brasil é cheio de lendas sobre criaturas estranhas e bizarras, algumas delas contadas como “lendas fofas”, outras como monstros psicopatas, sendo que na realidade elas não são nem uma coisa e nem outra… (ao menos não normalmente).

Capelobos, Anhangás, Bradadores, Corpos Secos, Iaras e Botos, Caiporas e Curupiras…

Todas essas lendas existem por aí

E costumam ser um grande problema para #iHunters, tanto gringos (por esperarem os tradicionais vampiros e afins) quanto para Brasileiros (devido aos regionalismos específicos relacionados a essas lendas)

Saiba Mais (4905 palavras...)

Como aceitei o Fate Básico

Um amigo descreveu da melhor maneira suas experiências ao ler e tentar entender o Fate Básico (e aqui vou de certa forma o parafrasear): “Isso é o que as pessoas comuns sentem quando eles lêem de Dungeons & Dragons pela primeira vez - como jogadores, fomos inicados ao RPG parcialmente por osmose, e aprendemos os segredos de comos as coisas funcionam por meio das pessoas que estavam o tempo todo nisso. Fate Básico é algo tão alienígena para mim quanto D&D é para o cidadão médio.”

Então decidi tentar mudar um pouco isso. Eu narrei sessões de treinamento para pessoas que nunca jogaram Fate Básico. Me foquei em narrar combates, já que é nele que as regras costumam aparecer mais. Estou escrevendo isso para dividir algumas intuições que alcancei após tais jogos com vocês. São algumas ideias que não estão em nenhuma ordem em particular.

Saiba Mais (1741 palavras...)

O Retorno para Casa

“É chegada a hora, minha querida Helen…“ Diz uma Fada Madrinha, com cabelos prateados e olhos lilás como a Ametista ” O que tinha que aprender aqui para seguir com sua missão em seu Reino, já aprendeste.”

“Mas, minha Mentora Mirana… Por que o fizeram? Por que exatamente eu? O que tenho de especial?” diz a mulher, jovem ainda que madura, com sua cabeça coberta pelo Manto das Fadas Madrinhas, que recebeu desde que foi Abduzida de seu lar, em Nova Iorque.

“Isso… Será uma descoberta a ser feita: pois nem nós sabemos por que os Vaticínios da Busca trouxeram exatamente você. Provavelmente, o seu coração irá trazer suas respostas quando isso for necessário. Agora, lembre-se do que deve fazer: guardar o Equilíbrio entre os Mundos, proteger seu povo de outros povos e vice-versa. Agora, você tem dois Lares: Terra e O Salão das Fadas!” diz a Fada Madrinha, guiando-a para dentro do Círculo Encantado. “Nunca se esqueça disso: a função sua, e de outros como vocês, é proteger esse Equilíbrio imperfeito e fluído entre As Realidades. Proteja-os e seus Dois Lares existirão para sempre e lhe serão acolhedores.”

“Entendo…“ ela diz “Sim… Vou fazer…“ ela diz, entrando no belo Círculo Encantado no Salão das Fadas.


“Esses Monstros! O que eles querem comigo?” diz o homem… Ou melhor, a criatura. Ele já nem sabem mais o que ele é com certeza: sua postura é curvada e quase de um predador. Tudo nele transparece um predador, de suas garras ao pelo escuro, dos olhos amarelentos às presas capazes de destroçar um animal frágil, até mesmo o cheiro, o suor forte que espanta criaturas mais fracas.

Mas ele era apenas um monstro pequeno, nesse reino de Monstros primordiais, criaturas terríveis que o morderam e arranharam por razões que ele não compreende, tornando-o essa criatura monstruosa que agora ele era.

“Isso! Corra! Cheire!” gritou uma voz, em um orgulho predador “Sinta o que é ser a presa! Deixe esse lado aflorar até que os seus instintos se revoltem com tamanha fraqueza! Deixe o seu Monstro tornar-se puro e forte! Rasgue! Morda! Mate! Isso é o que você é agora!”

“Não!” pensou o homem. Ele ainda consegue se imaginar com seu uniforme de investigador, sua arma na cintura, sua postura altiva e quase cínica. Agora ele tem medo e ódio dessas criaturas, do que elas fizeram com ele, de toda a dor. “Eu não posso ceder!!!” ele diz, mas aos poucos, ele sente uma barreira furando em sua mente.

Ele vê uma barreira de monstros na frente dele, em direção ao brilho que ele supõe ser a fuga que ele necessita!

O ódio cresce e o cega. Ele rosna: ele sente algo nele explodindo, um ódio que rompe barreiras. Um instinto em sua mente determinando a verdade: ele precisa matar! Ele precisa rasgar! Só assim será livre! Ceder ao Lobo, o Lobo Mau, essa é a única forma de ser livre!

Ele sente seus músculos bombarem, o sangue circulando mais rápido. Não é necessário pensar: presas rasgam, garras cortam. É tudo que ele precisa saber!

Ele sente agora que os monstros diante dele não cheiram mais como predadores. Ou antes… Até cheiram, mas fracos demais. Isso o dá uma certa felicidade: ele poderá os retalhar.

Ele golpeia o primeiro pelas garras, e sente ele tentando se engalfinhar. O humano teria empurrado para longe esse monstro que se engalfinhou, mas para o monstro isso é tolice: basta morder, arrancar a pele e sorver o sangue do monstro.

O que faz com eficiência.

Os demais monstros tentam fugir, mas ele os retalham, sangue, carne e pelos voando por todos os lados. Ele agora tem certeza: é um predador. O Lobo Mau, para devorar qualquer um que dê a chance! Ele uiva e corre em direção à Luz, enquanto uma voz diz no fundo de sua mente.

“Agora, lembre-se sempre de ser esse Predador: isso é ser alguém que Herdou a força da Floresta Escura! Essa é a força que você irá usar para proteger os Reinos!” essa voz diz, e essa voz fica gravada no fundo da mente desse homem que se tornou um Monstro, enquanto ele atravessa a luz, os cheiros mudando totalmente.

Cheiro de Fumaça, Podridão, Pedra e Bosque!


O jovem na gaiola vê o gigante nariz à sua frente e, mesmo sentido grande dor, força o mesmo contra um canto da gaiola até que uma boa parte do nariz estourar…

“Ai! Isso doeu demais!” diz o jovem, em roupas de boneco. Por alguma razão, ele sabe que não é desse lugar, e que ele não é um boneco de madeira, mas uma pessoa: mas ele tem sido forçado a agir como um boneco por vários habitantes desse local.

Um garoto de rua do Bronx tornado um boneco de madeira: quase um Pinóquio às avessas!

“Bem… Isso deve ajudar a fugir.” ele pensa “Tenho que aproveitar essa chance, onde ninguém está me observando. Eles acham que sou um bonequinho de brinquedo, vão sonhando!”

Ele usa o pedaço de madeira que ele gerou do nariz, mentindo sem parar, para arrombar a tranca da gaiola. Nada muito difícil para um trombadinha que faz esse tipo de “trabalho” desde que se entende como gente.

A tranca cede… “Beleza… Hora de me mandar!” diz o jovem para si mesmo, baixinho.

“Espera! Você vai precisar de ajuda para sair do Circo di Stromboli!”, diz uma voz, que vem de cima do seu ombro… Sentado sobre o mesmo, um bichinho na forma de um grilo.

“Quem é você?” diz o garoto de madeira

“Isso não importa agora! Estão te mantendo aqui como escravo, mas você precisa fugir. As pessoas aqui do Circo di Stromboli são mesquinhas e não se preocupam com o Equilíbrio da Realidade e com os Reinos.” diz a voz

“O que?” ele diz, quando ouve passos

“Explico depois, agora dê no pé! Corra para a saída do Teatro de Marionetes! Assim voltará ao seu Reino de Origem!” diz o Grilo “Eu irei com você: vão me tacar no fogo se eu ficar aqui!”

O menino de madeira corre para a Luz da Saída do Teatro de Marionetes, e ainda tem tempo de ouvir:

“Miséria! Minha fonte de dinheiro se foi! E Morgause ficará irada!”


Helen olha ao redor: está em um lugar totalmente familiar para ela.

“Strawberry Fields! Central Park! De volta para casa!” ela diz, quase sem reparar que o tom de voz dela é totalmente doce e meigo e suave, quase irreal em sua doçura. Ela olha e ainda está com as roupas do seu aprendizado no Salão das Fadas Madrinhas. Ela tira do bolso do Manto que está vestindo um espelho, e olha para seu rosto, ainda idoso e com cabelos ruivos, levemente esbranquiçados.

“Por Deus! O que aconteceu comigo? Minha face ainda é de uma Fada Madrinha?” ela diz, quando um brilho forte surge, e um garoto de madeira aparece, com um grilho sobre o ombro.

“Ok… Parece que estou de volta a Nova Iorque. Aquele lugar era um saco! Trabalhar para aquele careca babaca foi um porre!” ele diz, com alguns barulhos de batida de madeira na voz “Essa não! Ainda sou um boneco de madeira?”

“Vocês precisam de mais ajuda do que imaginam…“ diz alguém

Ambos olham para o lado e vêem um velho vagabundo, meio andrajoso. Curioso é que ele parece ter algo esquisito nas pernas.

“Quem é você, meu bom homem?” diz Helen, tentando entender porque seu comportamento é tão irrealmente gracioso: ela sabe de tudo no comportamento social, mas ela sabe que por mais caridosa que ela seja, aquele homem lhe traria uma natural ojeriza, ao menos imediata.

“Chame-me de Tumnus, Sr. Tumnus. Vocês são Guardiões, não são? Vieram de fora desse Reino, mas são parte dele no fim das contas. Foram extraídos daqui e receberam um Escopo de algum dos Reinos Mágicos…“ diz o mendigo

“Olha… Sem querer ser chato, mas não entendi esse papo.” diz o menino de madeira, quando um novo brilho surge, e uma besta sai de dentro dela, uma criatura meio-homem, meio-lobo.

“Ah! ARRRRGRGGGHHHHH!!!” ela rosna, enquanto por instinto o boneco de madeira procura um local para se esconder. O monstro avança para Helen, que por puro instinto saca a varinha e diz:

“Para comida não virar, um círculo mágico devo criar! BIBBITY-BOBBITY BOO!” ela recita o encantamento, e um círculo cobrindo uma região próxima a ela se cria.

“Uma Fada Madrinha do Salão das Fadas e um marionetti do Circo di Stromboli… Nunca imaginei isso… E ele provavelmente é um Lobo Mau da Floresta Escura.” diz o vagabundo

“O que você sabe sobre isso, cara?” diz o boneco de madeira “Eu ouvi o Grilo aqui falar desse Circo di Stromboli, mas sei lá que caralho é isso!” ele diz, o que faz o nariz dele crescer um pouco.

“Um Pinóquio! Muito interessante!” diz o vagabundo

“Desculpem interromper, mas preciso de ajuda aqui! Esse monstro está louco! Eu não estou conseguindo o parar!” diz Helen, começando a temer pelo que está acontecendo, quando o Lobo resolve atacar as pessoas próximas. Ela então sente crescer dentro dela uma necessidade urgente de proteger às pessoas. “O Meu Escopo!” ela diz “Eu vou ter que ceder a ele!” ela pensa, enquanto seu cabelo muda de tom para um branco irreal, sua face envelhece alguns anos, mas com bochechas enormes e coradas e os olhos em um tom de azul quase tão profundo quanto o mar.

“Para as demais pessoas proteger, um círculo de contenção devo fazer! BIBBITY-BOBBITY-BOO!” ela diz, suave, e com um gesto simples e magnânimo com a varinha ela cria um círculo de proteção mais externo, que contem o Lobo Mau.

“Eu dou um jeito nesse Lobo.” diz o menino de madeira, pegando ainda o pedaço de pau que extraiu de seu nariz no outro Reino e, o usando como clava, se arremete ao Monstro insano, acertando-lhe uma lenhada na cabeça que faz a madeira despedaçar-se e explodir em milhares de farpas. O Monstro cai no chão.

“Puxa vida, meu jovem marionete.” diz a Fada Madrinha “Não era necessário utilizar tamanha violência. Deveras, eu iria o conter facilmente com uma magia de sono.”

“Dona, eu não sei que diabos você está fazendo, mas eu não sou uma marionete. Meu nome é Bob.” diz ele

Tumnus sussura alguma coisa e toca Helen, fazendo-a adormecer.

“O que você fez?” diz Bob

“Não é importante agora… Me ajude com ela, e eu levo o Lobo… Não é seguro ficarmos aqui, chamaremos atenção demais. Estou criando uma magia simples de piscar: ninguém vai reparar muito na gente, ao menos que estejam intencionamente nos seguindo. Vamos ao Cornucópia.” diz o mendigo

“Cornucópia?” diz Bob

“Explico no caminho…“ complementa o mendigo


O Cornucópia ainda não tinha aberto para o dia. Seu dono, Liam, conhecia Tumnus de outros carnavais, e não apenas da Terra, mas de outros Reinos onde ambos se encontraram. Então ele não estranhou nem o mendigo andrajoso e nem seus companheiros estranhos.

“Tumnus, o que diabo está acontecendo?” diz Liam, tirando seu chapéu coco verde e fazendo um gesto rápido.

“Liam… Parece que são Retornados.” diz Tumnus “Provavelmente Guardiões de outros Reinos. O Lobo e a Fada estavam em uma Sobrecarga de Escopo”

“Bem… Isso é bem ruim, ainda mais se foi em um local público…“ diz Liam

“Strawberry Fields…“ diz Tumnus

“Cacete! Com todos os pontos místicos de Nova Iorque… Tinha que ser justo no Strawberry Fields?” diz Liam “Atenção demais: em cinco minutos as imagens devem estar pipocando em todas as redes sociais, até no Mastodon e no Scuttlebutt!”

“Eu sei… Mas o Lobo já veio sobrecarregado: você conhece os monstros da Floresta Escura. Enquanto a Fada teve que fazer a sobrecarga para aumentar seu poder.” diz Tumnus.

“Dá para alguém explicar o que caralhos voadores está acontecendo aqui?” diz Bob, olhando os dois homens.

Eles se olham e respiram

“Ok… Tumnus, leve eles até aquela mesa: eles devem voltar ao normal assim que acordarem. Eu levo alguma coisa para eles comerem.” diz Liam.


Helen acorda, sem se lembrar direito de muita coisa, enquanto vê o Lobo Mau ao seu lado, o bafo quente do monstro voltado ao seu rosto.

“Nossa… O que aconteceu?” diz Helen

“Você perdeu o controle do seu Escopo para proteger as pessoas no Strawberry Fields.” diz Tumnus “Não se preocupe… Aqui no Cornucópia todos conhecem os Guardiões das Fadas.”

“Hum… Que droga…“ diz o Lobo Mau, com um rosnado “Onde estou? Lembro apenas da Floresta!”

“Você está de volta à Terra, meu caro, ainda que não seja exatamente quem saiu daqui… Pretzels?” ele diz, oferecendo o petisco

“OK… Que papo é esse de Guardiões e Escopo e Realidades…“ diz Bob

“Eu acho que sei.” diz Helen “Me explicaram sobre isso no Salão das Fadas: por algum motivo que nem elas sabem explicar, fomos capturados de nosso mundo para ir para outro lugar. No meu caso, eu fui parar no Salão das Fadas Madrinhas. Me tornaram uma delas, ou ao menos parcialmente.”

“Pelo menos com você foi em um local legal: comigo fui parar em um local onde me fizeram virar esse boneco de madeira aqui.” diz Bob

“Tá reclamando? Perdi a conta de quantas luas eu passei sofrendo para virar essa aberração aqui. Aliás: alguém sabe se podemos voltar ao normal?” diz o Lobo Mau.

“Com o tempo, vocês vão voltar ao normal, ou ao mais próximo possível disso. Entretanto, pode ocorrer de vocês todos voltarem a essas formas, ou ainda pior, cederem completamente aos seus Escopos, os poderes e formas cedidos pelos Reinos Mágicos a vocês. Quanto mais o fizerem, maior a chance de se tornarem, de uma vez por todas, tais criaturas, com o risco de não poderem mais viver nesse mundo e ajudá-lo.” diz Tumnus

“Com o Equilíbrio?” diz Helen

“Você ouviu isso também? Lembro daquele maldito Alpha falando isso quando eu saí daquela Floresta. É a última coisa que lembro com exatidão antes de acordar nessa mesa.” diz o Lobo

“Por sorte, nada de ruim aconteceu, mas poderia ter sido uma tragédia: um Lobo Mau no meio do Central Park… Seria um mingau de sangue se me permitem uma leve ironia. Aliás… Melhor nos apresentarmos: podem me chamar de Sr. Tumnus, e o Strawberry Fields é o meu lar. Não é a primeira vez que vejo futuros Guardiões surgindo de lá.” diz Tumnus

“Me chamo Pericles Gautier… Era investigador aqui até… Acontecer aquela porra quando algo me agarrou em um beco e me levou para aquela Floresta maldita… O que diabos você quer dizer com Guardiões… E o que é esse Equilíbrio que você falou?”, pergunta Pericles, o Lobo.

“Bem… Dito rapidamente, existe uma quantidade indeterminada e astronômica, ainda que não infinita, de Reinos na realidade. Seus cientistas diriam que tais Realidades interagem entre si em um nível penta, hexa, ou mesmo heptadimensional, já que eles não afetam o tempo da sua Realidade. Entretanto, mesmo elas estão sujeitos às flutuações de energia envolvendo as interações entre as múltiplas Realidades. Pode utilizar o termo Magia, ele é tão bom quanto qualquer outro para denominar tais energias. Fluxos pequenos não são problemáticos: registros de Contos de Fadas de seu mundo são quase como registros da história da interação dos outras Realidades com essa. Entretanto, se faz necessário Guardiões desse Equilibrio, pessoas que evitem que os efeitos de tais interações tornem-se perigosos ao ponto de que possa romper o Equilibrio entre as Realidades, exterminando-as totalmente.” diz Tumnus.

“Peraí! Eu não pedi por isso!” reclama Bob “Ah, só para não deixar vocês no vácuo, me chamem Bob.”

“Eu sei… É um infortunío que tenha acontecido com vocês especificamente. Vocês podem dar às costas a isso, se desejarem, mas seria como jogar pérolas aos porcos, na minha humilde opinião. Não se façam a pergunta Por que eu, e não outra pessoa? Ela não tem uma resposta. Agora, vocês sabem o que aconteceu com vocês. Seja qual for a razão, vocês foram escolhidos para proteger esse Equilíbrio da Realidade. Apesar de ninguém entender a razão por trás de tal escolha, saibam que ela não é aleatória, porém. Existe uma Benção que vocês receberam nisso tudo para proteger outros, para protegerem os que amam. Imaginem que forças malignas, e sim, elas existem, pudessem fazer isso com outras pessoas, e com maior frequência.” diz Tumnus

“Isso seria terrível!” diz Helen “Acho que comigo as coisas foram mais gentis, pois as Fadas Madrinhas me explicaram isso. Eu estou dentro como uma Guardiã.”

“Olha, moça, e eu estou tentando ser educado, acreditar nas palavras de um mendigo meio doido só porque ele ajudou a gente quando estávamos pirados por algum motivo é meio demais, não acha?” diz Pericles, catando um punhado de pretzels e os mastigando com sua mandíbula feroz, farelo dos mesmos saindo pelos vãos das presas poderosas esmigalhando os petiscos

“Vindo de um Lobo Mau que quase não tem modos à mesa,o seu questionamento parece tão absurdo quanto.” diz Helen com uma risadinha.

“É… Faz sentido…“ ele diz, meio cabisbaixo

“Perdão, meu caro, mas acho que existe mais coisa em jogo do que imaginamos…“ diz Helen.

“Olha, o papo tá legal… Mas como vamos fazer para voltarmos ao normal?” diz Bob “Eu não curto muito a ideia de ser feito de maneira, não sei se repararam.”

“Vocês apenas precisam ficar uns dias descansando do uso excessivo do Escopo e recuperando suas forças.” diz Tumnus.

“Como se um hotel fosse receber um garoto de madeira, uma fada madrinha e um Lobo Mau.” diz Pericles “Talvez na Disney, mas…“

“Acho que tenho como resolver nosso problema. Meu cara barman… Poderia me emprestar o telefone, por favor?” diz Helen


Alguns minutos depois, uma van deixa os três no subsolo do Edifício Dakota, bem próximo ao Central Park e do Strawberry Fields.

“De todos os lugares do mundo, tu tinha que morar aqui? Esse prédio é maldito.” diz Pericles

“Fã dos Beatles também?” ela diz sorrindo “Na verdade, sempre achei um prédio agradável. O ar gótico é bacana, e todas essa ideia de maldição que falam por causa de John Lennon e do Bebê de Rosemary apenas torna mais fácil manter uma certa privacidade.” enquanto ela encaminha todos até um elevador social.

Ela aperta um botão direto para um dos flats: “quando alguém vai para os Flats, o elevador não para no meio do caminho por segurança e privacidade”.

“Quem diria… A herdeira da Hemingway Enterprises, virar uma Fada Madrinha.” diz cínico Bob.

“Antes de virar uma Fada Madrinha, já colocava muito do nosso dinheiro em instituições de caridade e projetos sociais. Na realidade, quase fui interditada por isso.” diz ela “Minha irmã é melhor que eu no quesito fazer dinheiro, então meu pai deixou para ela a maior parte dos bens e direitos nas empresas para ela… Eu tenho uma participação e algum dinheiro que sempre me permitiu viver confortavelmente. E mesmo minha irmã sabe da importância da minha influência na sociedade novaiorquina, então ela mantem uma certa quantia sobre os retornos financeiros das empresas entrando em minhas contas.”

“Hum… Parece legítimo.” diz Pericles.

“Agora, cada um pode ficar a vontade com um quarto, exceto o maior no fundo, onde eu durmo.” Helen afirma, mostrando os quartos “E qualquer coisa que precisarem, podem chamar as camareiras, eu as informarei dos acontecimentos dentro do que é possível de ser explicado, assim como a Lloyd, meu mordomo que nos guiou na van. Agora esse apartamento vai ser um pouco melhor ocupado… Antes era eu, o meu pessoal de apoio, e um ocasional amante de situação…“

“Pobre menina rica!” ironiza Bob, sem perceber que acertou direto no alvo do coração de Helen, só o notando ao ver o rosto triste da Fada Madrinha “Desculpa… Eu não sabia…”

“Está bem… Prefiro a sinceridade honesta e cruel ao sorriso hipócrita, mesmo que saiba como jogar no jogo social.” diz Helen, cabisbaixa “Tem algumas roupas nos quartos… podem ficar à vontade para usarem o que quiser que os sirvam.”

“Bem…“ diz Pericles “Não sei quanto a vocês, mas estou louco por um banho. Não aguento mais esse cheiro, ele está me atiçando a coisas que não quero fazer!”

“Fique à vontade.” diz Helen, tentando se acalmar um pouco “Eu estou exausta: preciso dormir. Se me dão licença…“ ela termina, dirigindo-se ao quarto dela

“Vai ser algo interessante isso…“ diz Bob, com um sorriso trapaceiro

“Se você tentar uma gracinha com ela, eu vou estraçalhar você, moleque, já vou deixar claro!” diz Pericles, flexionando as garras e as mostrando para o garoto de madeira “Eu não sei que diabos está acontecendo, mas ela ao menos está tentando nos ajudar, e não acho nada legal pessoas que se aproveitam da ajuda alheia para ferrar os outros.”

“Está certo! Fica calmo, cara…“ suspira Bob, indo até um dos quartos.


“Bem… Algumas horas foram o suficiente para o Escopo se dissipar.” diz o Sr. Tumnus.

“O que é bom… Me perdoem, mas ficar parecendo o Lobo Mau é algo horrível.” diz Pericles, de volta a sua forma humana, quase a caricatura de um investigador policial dos livros, meio que um Eddie Valiant da vida real: meio careca, um pouco baixo, mas um pouco mais vigoroso do que poderia-se imaginar. Ele estava vestido em um terno que encontrou no armário de Helen. “Nunca imaginaria que alguém como você teria esse tipo de coisa em seus armários.”

“Bem… Esse tipo de coisa é útil quando precisamos esconder alguns pecadinhos sociais.” afirma Helen, vestida em um vestido simples, mas elegante, seu cabelo vermelho em um rabo-de-cavalo, elegantemente simples “Creia-me… Eu sempre vivi sobre aparências, então sei uma coisa ou duas sobre isso. Embora…“

“Isso desagrade você, não é?” diz Bob, que também estava usando algo que arrumou em seu quarto: camiseta e bermudas unisex com um boné. “Eu percebi… Sempre teve uma vida fácil em uma gaiola dourada, não?” ele afirma, de maneira cínica.

Ela sente seu rosto enrubescer. “Sim… Você está certo. E você viveu ao contrário de mim: alguém que fez muita trapaça para sobreviver, mas pode fazer o que deu na telha para isso.”

“Bem… Vamos ficar nos lamuriando sobre as vidas fodidas que tivemos antes de nos encontrar? Nós três viramos coisas esquisitas, no fim das contas. Essa é a verdade inconveniente que temos que encarar agora, não importe o que aconteça.” diz Pericles, prático “Enquanto não entendermos o que aconteceu conosco e como voltar a ser o que éramos, não adianta nada ficar pensando no passado.”

“É verdade.” diz o Sr. Tumnus, ainda vestido em andrajos, ainda que mais limpos. “Uma verdade é que, por mais que vocês tenham voltado às suas aparências do passado… Vocês não são mais como no passado. Por alguma razão, vocês foram escolhidos para ou forçados a receberem um Escopo.”

“E Esse Escopo representado por uma criatura de fábulas ou da fantasia, ou assim as imaginam as pessoas, e tendo uma função na Realidade. Pelo menos foi o que entendi até agora.” diz Helen “Quer dizer que existem Escopos de outras criaturas mágicas?” ela questiona

“Sim. Ainda que nem toda criatura mágica seja resultado ou provenha um Escopo, todo portador de um Escopo o recebe baseado em uma criatura mágica. Uma Fada Madrinha, um Lobo Mau e um Pinóquio, no caso de vocês.” diz Tumnus, observando Helen, Pericles e Bob.

“E o que diabo é a tal da Sobrecarga?” diz Bob

“Vocẽs receberam habilidades especiais, vindas de seus Escopos. Talvez força sobrehumana, talvez Magia, talvez uma capacidade especial de enganar pessoas, mas algo fora do que seria considerado comum para um ser humano. Entretanto… Isso vem com um preço: ao usar essas capacidades, vocês estão entrando em contato com algo extraordinário. Quanto mais o fizerem de maneira desproposital ou despreparada, mais estarão próximos de se perderem, tornando-se criaturas de Mito e Magia, totalmente incompatíveis com esse Mundo Atual.” diz Tumnus, enquanto toma o chá que Helen serviu a todos, embora Pericles tenha preferido Cerveja e Bob uma lata de Dr. Pepper. “Para serem aquilo e fazerem aquilho que se espera de vocês, que é usar suas capacidades para proteger o Equilíbrio da Realidade, vocês poderão, ou antes, deverão utilizar esses poderes. Entretanto, cuidado! O abuso dos mesmos, levando à Sobrecarga do uso de tais poderes e habilidades do Escopo, pode colocar sua própria individualidade em risco: Helen e Pericles… Vocês devem ter percebido como foi quando vocês estiveram sobrecarregados com o Lobo Mau e com a Fada Madrinha.”

“Sim…“ diz Pericles “É como naqueles filmes baratos de lobisomem: tudo o que você quer é saciar um instinto de destruição.”

“Eu senti como se tivesse que proteger todos, inclusive a Pericles, mesmo que com isso eu pudesse ser destruída.” diz Helen

“Esse é o perigo do Escopo: use-o de maneira inadequada, e existirá uma grande chance de vocês se perderem nessa persona que lhes foi dada, na falta de um termo melhor.” diz Tumnus “Perdão, mas explicar em termos desse Reino o que lhes aconteceu é complexo, em especial quando tantos em seu Reino são descrentes da Magia.”

“Esse Reino?” diz Helen, levantando uma sombrancelha “Então não é daqui?”

Tumnus observa os três e diz:

“Sim… Não sou desse Reino. Ainda irei contar-lhes toda a minha história, mas não tenho como lhes convencer de outro modo sobre nada que eu lhes disser, exceto dizer que (1) eu sei como é ser um Guardião e (2) eu também tenho meus objetivos. Mas (3) não sou hostil a vocês: também estou do lado do Equilíbrio… Diferente de outros…“ ele diz, e diz baixinho “Como Morgause.”

“Morgause!” exclama Bob “Aquele careca babaca que me transformou em um burrinho e em um boneco de madeira mencionou esse nome, várias vezes!”

Tumnus se espanta

“Se o Circo di Stromboli está agindo junto com Morgause, isso é um péssimo sinal: ela deve estar acelerando seus planos, em especial se ela está forçando o Escopo entre pessoas de outras realidades. Isso pode ser um problema sério, já que ela quer trazer seu Reino, Avalon, para um ponto de hegemonia diante das demais realidades, mesmo arriscando romper o Equilíbrio das Realidades com isso, o que pode ser um grande problema!” ele afirma, categórico. “Talvez… A chegada de três Guardiões de realidades tão díspares seja um sinal: para o bem ou para o mal, eu não sei. Só sei que precisamos agir, e impedir Morgause. E, aparentemente, essa Realidade será o Tabuleiro, já que as peças não enxergam as mãos…“

“Bem… Cabe então a nós, pelo jeito, não deixar que ela nos coloque de volta na caixa, né?” diz Helen “Já que, ao final da partida, o Rei e o Peão vão todos para a mesma caixa.”

“Sim…“ diz Tumnus.

“Então… Eu posso disponibilizar meu flat como um ponto de encontro para nós, além de prover algum equipamento.” diz Helen

“Eu tenho uns contatos aqui e ali que sempre podem mostrar coisas esquisitas. Peculiaridades de ser um Investigador.” afirma Pericles

“Bem… Eu conheço uma turma no meio das gangues, em especial na região do East Side.” afirma Bob “Se todo esse lance for verdade, e parece que é, vamos precisar de toda a ajuda que pudermos.” diz Bob

“Sim… Mas antes de agirmos, precisamos descobrir se Morgause está realmente nessa realidade…“ diz Tumnus

Mal sabem eles…


Em um velho depósito em algum lugar, uma mulher observa as imagens em um celular.

“Essas porcarias tecnológicas tem lá seu valor, ainda que uma boa Bola de Cristal seja muitas vezes melhor.” diz ela, olhando a tela, com as imagens filmadas por alguém de uma cena bizarra: um Lobo Monstruoso sendo parado por uma Fada Madrinha, um Menino de Madeira próximo aos dois. O título do vídeo: “Apresentação de Rua Bizarra”.

“Tolos humanos… Se arrependerão de quando fecharam os Portões de Avalon. Irei trazer o Culto Antigo à sua Imensa Glória do passado, e matarei todos no meu caminho, se isso for necessário. Eu não sou tão boazinha quanto Morgana, que aceitou uma posição de insignificância diante das verdadeiras benesses que nos deveriam ser sempre de direito.” ela sorri, no meio da escuridão, sendo observada por uma série de criaturas distorcidas: monstros e criaturas vis de vários Mundos que se associaram a ela ou que ela dominou para seus fins.

“Um dia… O nome Morgause será entoado em todas as realidades como a de uma Deusa! Esse é meu destino!” diz a mulher, enquanto gritos e guinchos recitam esse nome “MORGAUSE! MORGAUSE! MORGAUSE!”

“Vocês que baixem a guarda, Guardiões… E eu farei questão de destruir vocês, um a um, com a devida pompa e crueldade.” ela diz, sorrindo, enquanto desliga o aparelho celular, e sorve um gole da taça de Vinho Élfico.

“Eles não perdem por esperar…“ ela diz, com um sorriso sádico, pensando nas milhares de maneira de os humilhar quando tomar esse reino, lar deles, como sua Propriedade.

Como deveria lhe ser de direito.

No comments yet