Jogando com crianças em Castelo Falkenstein

“- Danação, Tom! Perdemos eles! – disse o homem de cabelos morenos e corpo nobre, vestido em roupas sóbrias que o distingia como um verdadeiro cavalheiro, ao dar de cara em um beco com uma parede totalmente lisa. – Uma perseguição cansativa e infrutífera, meus caros. Creio que a sorte nos abandonou agora.

– Deve ter alguma passagem secreta. – disse o homem de cabelos castanhos, vestido na farda dos Cavaleiros da Baviera. – Eles não podem ter desaparecido pura e simplesmente do nada!

– Até onde vejo, meu bom amigo, não tenho do que duvidar de eles terem desaparecido no nada.

Thomas Olan observava a parede do local: era sólida e feita de um mármore muito polido, que dificultava a visão.

– Eles devem ter algum truque mágico. – sussurrou Thomas – Mestre Morrolan, você consegue perceber algo estranho.

– Não, meu caro. – disse Morrolan, fazendo alguns passes diante da parede – Não há magia aqui: posso não conhecer as Doutrinas da Ordem de Rá, mas não deixaria de perceber os fluxos da energia gerada pela Arte.

– Mas como eles escaparam então? – disse a jovem vestida em roupas de hussardo – Se não o fizeram usando algum portal místico, como então?

– Marianne, o Templo de Rá é dedicado ao uso da Ciência e da Magia para trazer de volta os malignos seguidores de Set e os tirânicos Faraós. – disse Morrolan – Uma Ordem em sua origem dedicada à evolução do ser humano, foi corrompida por dentro por homens nefastos desejosos de poder, Devem ter algum Dispositivo que permite a eles iludir as pessoas ou ocultar uma porta secreta nesta parede…

– Deixe-me ver então. – disse Marianne. Ela se aproximou da parede e começou a bater na parede tentando achar algo. Alguns minutos se passaram até ela se dar por vencida.

– Se existe alguma coisa oculta aqui, desconheço… Algum tipo de magia ou sortilégio pode ser necessário para entrar aqui, embora duvide disso. A sorte deve ter nos abandonado mesmo, meus amigos.

– Moça, se ‘ocê quiser, eu boto ‘cêis lá dentro!

A voz veio de uma criança de rua, uma das muitas que se acumulavam pelas ruas mais pobres de Londres. E como elas, ela estava suja e cheirava mal. Mas ela tinha um sorriso bonito com dentes que mereciam uma bela escovada para ficarem brancos como a neve como deveriam ser, cabelos acajus encaracolados que depois de um bom banho deveriam ser belos e olhos de cor verde. Ela vestia uma jardineira de brim escuro com calças e uma camisa xadrez, encimando tudo com uma boina encardida. Ela não conseguia deixar de aparentar ser bonita e de ter um porte rusticamente elegante, mesmo parecendo ter rolado na lama e no esgoto londrino. Uma criança que, com um bom banho e roupas limpas, deveria ser um anjo na Terra.

– Qual é o seu nome, criança? – disse Morrolan.

– Jackie… Só Jackie… – disse a criança – Mamãe desapareceu quando eu nasci. Papai era malvado. Foi enforcado alguns dias atrás. Me largaram na rua. Vivia com um senhor que me obrigava a roubar. Fugi dele e um dia descobri como entrar lá dentro. Cheio de homens maus. Seqüestram crianças como eu. Ninguém ia dar falta mesmo… – disse a criança, com um cinismo quase mortal. – Eu achei uma passagem secreta. Eles deram bobeira e consegui fugir.

“É triste ver crianças abandonadas.” – pensou Thomas, lembrando de seu mundo futuro, o qual abandonou ao ser transportado por magia para salvar o Rei Luiz da Baviera e proteger o mundo das Forças do Mal representadas pelo Conde von Bismarck da Prússia e pelo Adversário Unseelie.

– Existe algo que possamos fazer por você? – disse Thomas, antes que o bom-senso agisse.

– Tô cum fome! – disse Jackie – Tem algo aí pra comê?

Thomas mexeu na sabretaché que era parte do uniforme da Cavalaria Bávara e encontrou um pão e alguns biscoitos e entregou-os à criança:

– Mas primeiro, vamos dar uma limpada nesse seu rosto… Por Deus, você está todo encardido… Ninguém deve comer com o rosto todo sujo. Não é bom para a sua saúde. – disse Marianne, sacando um lenço e limpando o rosto da criança., esfregando-o de uma forma que fez a criança recuar Foi quando perceberam.

– Por Deus! – disse Morrolan – É uma menina! Mas por que…

– O que ‘cê tem contra? – disse Jackie, enquanto ela devorava o pão e os biscoitos e falava ao mesmo tempo – Eu sou menina, mas já soquei o Big John de West End no meio da fuça, e o Lee da Casa de Ópio que tentou me estuprar, e protegi o pequeno Shaun, filho do padeiro, dos arruaceiros da gangue do Sean Olhos-de-Sangue. – completou Jackie, tão orgulhosa quanto se tivesse vencido sozinha a Batalha de Königseig.

– Uma menina corajosa, diga-se de passagem! – disse Marianne, orgulhosa de uma garota que se defende e defende os outros. Como Aventureira e mulher emancipada, Marianne Theressa Desirèe, Condessa foragida da França, sempre respeitava mulheres que sabiam se defender. – Mas por que veste-se de menino?

– Foi as roupa que consegui na Igreja, com a Madre Mirian. – disse Jackie – Só tenho isso e isso aqui.

Ela mostrou um relicário para Marianne.

– Foi tudo que consegui salvar antes de meu pai tentar me vender aos prostíbulos do Liam do Porto.

– Posso? – disse Marianne, segurando o relicário e o abrindo. – DEUS! Não pode ser!

– O que foi, Marianne? – disse Tom

– Se essa foto for verdadeira, ela é filha de Lady Órla Ni Breathgan, senhora de Caer Istare, em Sligo! Eu a conheci quando estive em Belfast, enfrentando alguns rufiões.

– ‘Cê conheceu minha mãe, dona?

– Sim. – disse Marianne – Por Deus, não sei como você veio parar aqui, menina, mas não podemos deixá-la aqui! Esse não é seu lugar.

– Como assim, dona? Cresci aqui desde que me entendo por gente… – disse Jackie, ainda receosa.

– Quer descobrir quem é sua mãe, não quer? – disse Marianne. Jackie meneou a cabeça. – Se você nos ajudar, prometo te proteger e te entregar sã e salva a sua mãe. E enquanto não a encontrarmos, vou ensinar-lhe tudo o que você precisa saber. E vamos comprar roupas novas e tudo o que precisar vestir. Irá morar conosco por algum tempo, mas terá que manter segredo sobre onde moramos. Entendido?

– ‘Tá bom, tia! – disse Jackie

– Em primeiro lugar então, não é “‘Tá bom, tia!” e sim “Entendi, madame!” – Marianne comentou entre divertida e exasperada.

– Entendi, madame! – disse Jackie, aprendendo rápido – Se eu achar minha mãe, vou ter que falar empolado que nem aquelas garotinhas mimadas da Escola St. Patrick?

– Ao menos com os outros, sim. – disse Marianne, sorrindo – Logo você vai descobrir que uma boa educação pode lhe proteger tanto quanto os punhos ou as armas. Mas, com sua mãe, ficará a critério dela.

– ‘Tá bom, tia… Ooops.. Entendi, madame!

Marianne sorriu e Jackie sorriu com ela. Ela aprendia rápido, todos perceberam. Morrolan sabia o quanto Marianne desejava ter uma família e filhos, e odiava interromper um momento belo como esse, mas…

– Detesto ser estraga-prazeres, mas temos assuntos mais urgentes a resolver. Marianne, se pretende trazer essa garota com você, espero que a proteja.

– Tio, eu sei me virar, e ‘cêis não vão conseguir entrar lá sem minha ajuda.

Morrolan observou a garota… Ela era decidida. Realmente parecia ser mais do que parte da ralé que roubava e matava e vivia na sujeira do baixo Londres. Mesmo que a alegação de Marianne fosse falsa, Jackie não parecia má como outras crianças. Havia inocência no olhar dela, e como Iluminado da Baviera, dedicado à Iluminação e Progresso da Humanidade, ele não podia deixar tal Maldade passar incólume.

– Muito bem, Jackie… Mostre-nos o caminho. – disse Morrolan, enquanto Jackie e Marianne iam em uma direção para a entrada secreta.

As crianças na Época Vitoriana eram normalmente ignoradas, tanto na história quanto nos contos. As crianças normalmente eram relegadas a segundo plano pelos adultos, seja chutando-as para as ruas e escolas, seja colocando-as nas redomas de cristal dos berçarios nos castelos. Crianças tinham horário para dormir e comer, e ai delas se desobedecessem.

Mas vários livros vitorianos foram escritos com personagens famosos crianças: O Jardim Secreto, Little Lord Fauntleroy, Oliver Twist e as Aventuras de Huckleberry Finn são apenas alguns a pensarmos. E muitos deles foram heróis de uma forma ou de outra. Para citar apenas alguns, Tom Sawyer, Mary Lennox (de O Jardim Secreto), Alice, Wendy Darling (de Peter Pan) e mais recentemente, Sally Lockhart (da série de Philip Pullman, autor de “A Bússola Dourada” e da Série Fronteiras do Universo), embora a última tenha 16 anos.

Aqui estou propondo uma mecânica de criação de personagens para crianças em Falkenstein. A diferença principal está na forma em que as Habilidades são escolhidas: considerando o fato de que crianças ainda estão crescendo, existe uma mecânica que considera essa evolução natural da criança até ela se tornar um adulto, entre 16 e 18 anos.

A Criação do personagem infantil:

Onde o anfitrião mostra que é necessário mais do que uma cinta para educar uma criança

Normalmente consideramos que Dramatis Personae criados conforme as regras do Módulo Básico de Castelo Falkenstein são considerados adultos, no máximo jovens (como Sally Lockhart). Isso deve-se ao fato de que na época vitoriana não existia o conceito de “adolescência” ou de “infância”: esse é um conceito do século XX, e a sociedade vitoriana, em sua transição da Era das Trevas medieval para o Futuro não possui ainda esse conceito. Em geral, crianças começavam a trabalhar tão logo pudessem andar e falar.

Uma criança na época vitoriana em geral não tinha muitos direitos legais: ela precisava sempre de um tutor ou parente para tudo legalmente, e a palavra de uma criança não tinha valor legal. Mas uma criança que cometia um crime pagava com a mesma pena de um adulto: existem registros históricos de enforcamento de crianças de 12 anos. A vida não era fácil para crianças, ao menos as pobres: as ricas tinha tudo do bom e do melhor, embora ainda fossem consideradas “adultos pequenos”.

A criação de um personagem criança em Falkenstein segue o mesmo sistema normal, mas adaptado: conforme a idade, muda o número de Habilidades que o personagem pode escolher. Ele ainda deverá escolher sua Habilidade em nível Fraco, mas o número de perícias em nível Bom muda. Personagens crianças não tem direito a Habilidades em nível Ótimo, EXCETO se o Anfitrião autorizar, e normalmente apenas uma. Um personagem criança não deveria ter em momento nenhum Habilidades em Excepcional ou Extraordinário. Isso visa gerar um equilibrio e respeitar o fato da criança ainda não ser um “adulto” no sentido de amadurecimento físico, mental e social (o Anfitrião, com uma desculpa REALMENTE BOA pode autorizar, todavia).

Um personagem criança tem direito a uma Habilidade Boa a cada 3 anos de idade, sendo que o mínimo são duas (6 anos), arredondado para o mais perto.

Exemplo: Cedric Errol (de Little Lord Fauntleroy) é um garoto de 7 anos de idade. Desse modo, ele tem direito a duas Habilidades em nível Bom e ainda é obrigado a escolher uma em nível Fraco. Desse modo, opta-se por Carisma [BOM], Aparência [BOM] e Feitiçaria [FRA] ao criar-se o personagem.

Quando o mesmo chegar aos 16 a 18 anos, ele tem direito a escolher sua habilidade Ótima. Se ele optar por transformar uma habilidade Boa em Ótima, ele pode escolher uma outra habilidade em Bom. Perceba que, por esse mecanismo, quando alcançar 16 anos (tempo de jogo), o personagem terá os mesmos níveis de habilidade de um personagem Falkensteiniano pleno deveria ter: 4 habilidades Boas, 1 Ótima e 1 Ruim

Crianças e a Feitiçaria:

Onde o Anfitrião descobre como os pequeninos desenvolvem seu talento na Arte

Não existe nenhum impedimento nesse sistema de criação de personagem em uma criança ser Magista, exceto que ele NÃO PODE ter escolhido previamente Feitiçaria como Fraco no começo do processo. Se ele não tiver isso, qualquer uma das habilidades que ele ganhou com a idade pode ser Feitiçaria. Porém, caso ele não escolha logo no começo, ele não terá uma Ordem de Magia à qual estará associado e portanto não terá nenhum acesso a Doutrinas (a não ser que o Anfitrião aceite alguma desculpa – como ter tido acesso às Doutrinas por meio de um Tutor, Mentor ou Mestre), e terá que ser aceito por uma no processo (a representação do processo fica por conta do Anfitrião). Se, no momento em que ele começar o processo, ele optar por Feitiçaria como habilidade Boa, ele poderá escolher uma Ordem e ter acesso normal às Doutrinas.

Exemplo: Leanna McDougal é uma wicca, uma crente do Culto Antigo. Tendo apenas 10 anos, ela tem acesso a três Habilidades Boas. Ao optar por Feitiçaria [BOA], ela pode escolher de imediato uma Ordem de Magia e ter acesso normal às Doutrinas da mesma. No caso, ela opta pela Irmandade Druida, tendo acesso normal a todos as Doutrinas da mesma. Caso não fizesse isso, ao optar a posteriori por ter Bom em Feitiçaria, ela não teria acesso a nenhuma Doutrina, até que um Mestre ou Mentor a indicasse para uma Ordem de Magia.

Fadas Crianças:

Onde o Anfitrião descobre que mesmo entre o Povo Gentil existem infantes

Esse sistema de regras pode ser aplicado para criar-se “Fadas Crianças” normalmente. Não existe nehum impedimento à criação de uma “Fada Criança”, à exceção de que ao menos uma das Habilidades BOA iniciais deveriam ser alocadas em Eterealidade OU Glamour OU Poderes Raciais. Obviamente, todas as fraquezas de uma Fada continuam valendo, seja o Ferro Frio, seja as Fraquezas específicas do tipo. O que dissemos aqui sobre Fadas também se aplicam a Anões (sendo que eles não podem ter um Segundo Nome), mas não aos Dragões: existem muito poucos Dragões infantes, e normalmente eles são criados por seus papais e mamães longe do mundo até estarem prontos.

Habilidades que mudam seu comportamento com a idade:

Onde o Anfitrião é alertado que, mesmo com capacidade iguais, crianças possuem algumas desvantagens diantes de adultos

Demais habilidades do Módulo Básico não são modificadas. Habilidades específicas de outros módulos têm seu comportamento determinado pelo Anfitrião.

Experiência e Idade:

Onde o Anfitrião é apresentado aos benefícios da maturidade para os infantes

Uma criança evolui um pouco mais rápido que um adulto. Isso é representado da seguinte forma: se uma criança tiver obtido uma habilidade por experiência, ainda assim ela poderá aumentar essa habilidade quando chegar na idade de adquirir uma habilidade Boa. Nesse caso, soma-se um nível à Habilidade, representando o amadurecimento do personagem. Isso pode ser feito apenas UMA vez por habilidade, o acréscimo pela idade. Porém, na experiência normal, o personagem continua evoluindo sem problemas.

Exemplo: Imaginemos que Cedric Errol evolua seu Trato Social para Bom. Uma vez que ele alcance 9 anos, ele pode aumentar normalmente seu Trato Social devido à idade (de Bom para Ótimo). Porém, ele não poderá fazer o mesmo novamente aos 12 anos, quando deverá optar por outra habilidade, A partir de então, ele só aumentará a habilidade de Trato Social pela experiência normal.

A habilidade Fraca

Onde o Anfitirião descobrirá que, com o tempo, os pequeninos podem perder o interesse no que fazem

Uma regra especial que um personagem criança tem é relacionada à Habilidade que o personagem tem que ter obrigatoriamente em Fraco. Crianças são muito mais suscetíveis aos humores ao mudarem seus desejos e suas aptidões que um adulto. Portanto, seria previsível que um personagem criança pudesse desenvolver com o tempo interesses em áreas onde normalmente não possuem a menor aptidão.

Isso é emulado da seguinte forma: uma enquanto o personagem não se tornar “adulto” (ou seja, tiver as quatro habilidades Boas e a habilidade Ótima), ele pode, uma vez por aventura e ANTES de seu início, trocar sua habilidade Fraca por qualquer habilidade Média que ainda tenha disponível. Isso permite a ele “emular” seu crescimento, ao rever seus gostos e aptidões. Ele pode inclusive, ao receber uma habilidade Boa pela idade, escolher sua habilidade Fraca e elevá-la para Bom automaticamente, escolhendo uma habilidade Média em seu lugar. Qualquer alteração dessa fica sujeita à aprovação do Anfitrião e dependerá de uma boa explicação do jogador. Em especial habilidades como Compleição Física, Aparência, Trato Social, Situação Financeira e Carisma exigiriam uma boa explicação para uma alteração como essa, em especial se forem as habilidades a serem reduzidas.

Crianças e o Diário:

Onde o Anfitrião é apresentado aos modos como os infantes registram seus idílios e brinquedos

O diário de uma criança não é muito diferente em registro do diário de um personagem pleno de Castelo Falkenstein, conforme mostrado no módulo básico, página 155. Porém, as diferenças estão mais na forma como ele é escrito e nas perguntas e respostas.

Personagens Dramáticos:

Onde o Anfitrião é Apresentado a alguns tipos de Heróis e Vilões de pequena idade

Note que os Arquétipos normais de Falkenstein são válidos ainda, embora seria muito estranho ver uma Cortesã de 12 anos de idade ou Médico de 9 anos. Os Arquétipos abaixo também podem ser adotados por adultos, mas também seria muito estranho ver um Twist de 20 anos.

Twist (de Oliver Twist)

Criado no meio das ruas, a sua subsistência depende de agir de maneira criminosa. Mas você não é mal… Você é tão inocente quanto qualquer criança, e espera apenas uma chance para se redimir. Você não rouba daqueles mais pobres que você e é capaz de uma série de ações boas. Mas sabe que você precisa comer, e aquela torta no parapeito da janela ao lado parece tão gostosa…

Pequeno Nobre

Você é parte de uma nova geração da Nobreza, Em seu sangue corre a tradição de centenas de anos de uma casa nobre, com os grandes feitos do passado lhe inspirando. A situação pode não ser mais tão boa quanto foi no passado, mas você defende seu nome e a tradição do mesmo, evitando se misturar a más companhias e mantendo a decência e a honra acima de tudo. Você estuda e aprende a ser requintado, honrado e digno como se espera dos nobres.

Coroinha/Noviço/Aprendiz de Feiticeiro

Você é mais do que um desses coroinhas normais de Igreja: você tem a Visão. Você conhece a existência além da Matéria. Você ainda está no começo da sua caminhada no mundo da Alta Feitiçaria, mas todos estão de olho em você. Você é promissor e sabe disso, além de ter um apetite por conhecimento raro entre as demais crianças. Você sabe que existe um Jogo lá fora, que é mais complexo que os Brinquedos infantis: um Jogo que pode custar o próprio futuro da humanidade!

Abelhudo

Você se considera um Jornalista, mas o máximo que sabe sobre isso é ler os jornais. Na realidade, você anota as fofocas da vizinhança na esperança de obter a Grande História, ou ao menos alguma coisa que possa ser publicada no futuro. Você não tem medo, em sua inocência, de tropeçar em Algo Que O Homem Não Deveria Saber. Afinal de contas: tudo dando errado, procure a polícia.

Pestinha

Para que esquentar a cabeça com a vida? Um sorrisinho, uma palavrinha doce, e todos caem de amores por você. As pessoas pensam que você é um anjinho. Que tolos: você é um manipulador nato, capaz de enganar qualquer um para dar a impressão de ser um doce. Na verdade, com as outras crianças, você não tem dó: você aprendeu desde cedo que existem os que enganam e os que são enganados. Você escolheu não ser enganado.

Líder da Turma

Você é o mais forte, rápido e intrépido de seus amigos. Nas lutas contra outras turmas, você é o primeiro a entrar na briga e o último a sair. Você não tem medo de apanhar, pois você é forte e durão e cresceu nas ruas sabendo se defender. Mas você sabe que existem aqueles que não conseguem ser como você. A esses, ao invés de explorar ou espancar, você protege. Você entende o seu papel no mundo: você vê as roupas dos soldados da Cavalaria e sonha com um dia vestir uma delas. Você não é apenas um Brigão qualquer; você protege o que é certo.

Fanfarrão

Como o Lider da Turma, você se cerca de pessoas. Mas diferentemente dele, você não dá a mínima para os outros. Você faz o seu caminho pela força e pela intimidação, e não importa o que esteja no seu caminho. Se você quer uma coisa, você a consegue, seja roubando, batendo nos outros… Não interessa. Você é forte, e sua posição é Liderar. Você sabe que seu futuro é glorioso, e os mais fracos que você servirão de escada para alcançar o que você quer! No fim das contas, você é um covarde, mas qualquer um que fale isso de você volta para casa todo roxo!

Pajem/Dama de Companhia

Você não nasceu nobre, mas sua beleza, requinte ou educação chamaram a atenção de um. Separado daqueles que ama, sabe que o que faz é pela Pátria e pela Nação, sendo educado para ser o companheiro perfeito de brincadeiras e estudos, a pessoa em quem ele vai colocar sua confiança no futuro. Mesmo muito jovem, você está sendo treinado para ajudar um Pequeno Nobre no futuro, quando ele for chamado às suas obrigações. Você é esperto e companheiro, e muitas vezes é quem realmente faz o serviço. Você sabe que a glória acaba ficando para o Nobre, mas isso não importa: você faz o que é certo para preservar o bom nome e a honra da família nobre à qual é associado.

Escudeiro

De família nobre ou não, você está sendo treinado para proteger a Pátria dos inimigos no futuro, acompanhando as missões de um ou mais Soldados Intrépidos ao qual você foi designado. Você é um serviçal, mas também um aprendiz: vendo suas ações ousadas e seu sabre mortal, você se prepara para no futuro ser como ele, um homem batalhando pelo Rei e pela Nação!!!

Menina Levada

Então uma menina tem que ficar usando tutus e sapatilhas para viver a vida, né? Quão errados eles estão! Você corre mais rápido, arremessa melhor e nada melhor que a maioria dos meninos. Nenhum menino que se meteu a besta com você aguentou o tranco, e você sabe se defender muito bem sozinha. Você até mesmo sabe um golpe ou dois com uma espada, e se um estilingue cair em suas mãos, melhor eles sairem correndo!!!

Garoto Inteligente

Você não é tão forte quanto o Líder da Turma ou a Menina Levada, mas você é os miolos da turma. Quando as pessoas ao seu redor dependem de algo estranho sobre alguma coisa, você é a pessoa indicada. Você leu todos os livros de Júlio Verne e você é capaz de entender como o Canhão Colúmbia funciona. Seu maior sonho é ver uma Máquina Diferencial de perto, e você só é capaz de sonhar sobre  como é entrar no mundo do Realismo Virtual! Todo mundo tem medo de suas invenções, e lendas correm sobre seu Estilingue de Repetição e sobre a Catapulta de Bexigas de Água! E eles que se preparar: se tudo correr bem, seu Reciprocador de Feijão vai dar muita dor de cabeça aos seus inimigos!!

Romântica incorrigível

Você é uma sonhadora incorrigível. Você acredita no que é certo e para você O Bem Sempre Vence! Você é doce como o mel e totalmente incapaz de fazer alguém chorar. Seu rostinho angelical é de fazer o coração de qualquer um virar manteiga, e seu sorriso faria até mesmo o Conde von Bismarck vacilar.

Virtuoso

Desde a primeira vez que você tocou em um piano ou subiu em um palco você soube: sua vida seria a arte. A vida do virtuoso não é fácil: muitos imaginam que você sacrificou os brinquedos da infância pela arte, mas na verdade o palco, o piano são seu brinquedo. E o mundo precisa de mais beleza.

Dramatis Personae Famosas

Onde o Anfitrião conhece algumas criança famosas de histórias

Exemplos de diário infantis:

Onde o Anfitrião é apresentado à pequena Sabine Füllfederhalter, a seu irmão Werner e a seus amigos Roland Westendorff e Ludwiga von Katzwein

Sabine Füllfedehalter

“München, Baviera

15° dia do mês de Março

Ano de Nosso Senhor de 1870.

Hoje estou fazendo 9 anos e, como presente de aniversário, recebi de meu papai esse diário, o qual estou começando. Nele vou falar da minha vida aqui em Alt München, capital do Reino da Baviera, sob o auspicioso reinado do Rei Luiz Segundo da Linhagem dos Wittlesbach.

Meu nome é Sabine Füllfederhalter… Um nome estranho, que já me rendeu muitas chacotas de outras crianças na escola onde estudo. Mas não me importo: meu nome tem um significado bonito. Em nosso idioma alemão, isso significa “caneta tinteiro”, e gosto de pensar que é um sinal de que meu destino quem escreverá sou eu.

Sou a caçula de uma família de sete homens, fortes e de cabelos escuros e bigodes fartos… Não acredito que vá ter bigodes, mas se os tiver, a cor será diferente, pois meus cabelos são muito louros, sendo que puxei para mamãe nesse quesito, como em muitos outros. Tenho um físico um pouco mais frágil que o normal para a minha idade e para a família (Compleição Física[FRA]), mas meus longos cabelos dourados e cacheados me renderam o apelido de “Cachinhos Dourados”, da história do Sir Robert Southey, cujo livro papai me deu no Natal a quatro anos atrás, quando o Rei Luiz derrotou o malvado Conde Von Bismarck com a ajuda das maravilhosas Aeronaves criadas pelo Mestre Rhyme Mestre das Máquinas com a ajuda do estranho Thomas Olan, que dizem terem vindo do futuro, e contando com a ajuda do Mestre Morrolan. de Lady Marianne e de Auberon, Rei das Fadas, ou ao menos é o que ouvi quando Herr Altermann comentou os acontecimentos uma vez que fui comprar pães para o café da manhã. Meu irmão mais velho Christoph confirma a história, mas pede para não contarmos, pois é Segredo de Estado, um Segredo do Rei.

Como disse, sou um pouco mais frágil que o normal, com cabelos longos e cacheados e muito loiros. Meus olhos são verdes e bonitos, puxando mamãe. Na verdade, pelo que vi das fotos, pareço mamãe quando mais jovem: frágil, loira de olhos verdes e bonita. Uma beleza que é ainda mais acentuada pelo fato de que gosto de usar roupas finas e bonitas (Aparência [BOM]).

Meu papai se chama Gellert Füllfederhalter, e é dono de uma pequena empresa fabricante de canetas tinteiro, o que parece predestinação se considerarmos nosso nome. Minha mamãe se chamava Martina Schaltzberg, depois Martina Füllfederhalter. Infelizmente, no momento em que eu nasci, mamãe morreu: papai me disse que ela ficou muito ruim de saúde quando eu estava para nascer e, quando eu nasci, o corpo exigiu demais e ela partiu para o Céu com o Papai do Céu. Como ela já era muito frágil, ainda mais depois de ter 6 filhos, ela já não agüentaria normalmente um sétimo parto e ela foi morar com Deus. Ainda hoje, vejo papai chorando no meu aniversário, e sei que ele se sente um pouco triste porque mamãe morreu quando eu nasci, mas ele disse que ela pediu para que não ficássemos tristes e que lembrássemos dela como ela viveu. E papai me conta todas as histórias sobre como ela era uma atriz sensacional e uma bailarina capaz de causar inveja, uma mente brilhante em um corpo de fada.

Meus irmãos se chamam Christoph, Ulf, Stephan, Ralf, Lorenz e o mais novo deles, Werner. Diga-se de passagem, ele é uma peste, mas não consigo deixar de ajudá-lo e gostar dele. Ele é meu irmão, e acho que no Céu mamãe não ficaria feliz se eu fosse malvada com meu irmão. Depois que nasci e mamãe morreu, papai ficou um pouco cabisbaixo, disse meu irmão mais velho Christoph. Diz ele que Werner ficou um pestinha depois disso, e meio que me culpava pela morte da mamãe. Apesar de tudo, gosto de todos os meus irmãos e vivemos muito bem em uma casinha que parece de conto de fadas, com paredes externas azuis pintadas todo ano, parapeitos brancos e cortinas bonitas por onde o sol brilha todos os dias, flores nos parapeitos da sala e uma lareira quentinha para o inverno. Papai não é muito rico, e já tem mais de 40 anos de idade, mas ainda trabalha com muito orgulho e consegue nos sustentar, ainda mais que agora apenas eu, Werner e Lorenz vivemos em casa. Ralf e Stephan eram mercadores que trabalham entre a Baviera e a Ruritania, e agora Ralf é um ator cômico e Stephan um assistente de cientista, e Ulf e Christoph são Capitães de tropas no 7° e 9° Batalhão de Infantaria do Reino, trabalhando diretamente para o Rei e vivendo muitas aventuras. Estiveram em Königseig e contaram para nós todas as histórias, do grito de guerra do Rei, do desespero que sentiram e de como agradeçeram a Deus quando as nossas Aeronaves destruiram as Fortalezas Móveis Prussianas. Ambos também receberam terras e títulos de nobreza, sendo Barões e podendo frequentar a Residentz do Rei sempre que desejarem. Já estiveram na Inglaterra, na França e viram o Imperador Napoleão II, e já visitaram Hong Kong, onde viram os Imperadores Dragões da China (que realmente são Dragões), e de todas essa viagens me trouxeram brinquedos incríveis movidos a vapor e bonecas lindas.

Somos todos Católicos e vamos todo domingo à missa, junto com nossa Governanta, Madame Luizanne, vinda do Reino da França, onde ela era uma Condessa que teve que fugir depois de assumir que estuda a Doutrina de Alan Kardec, que a Igreja vê com ressalvas. Apesar disso, ela é uma moça bondosa e bonita, com cabelos escuros brilhantes e olhos castanhos e bochechas rosadas, como uma Governanta tem que ser. Alguns bobos na escola dizem que ela é uma Bruxa terrível e que ela vai me matar e me cozinhar em uma Sexta Feira da Paixão às 3 da tarde, que foi quando Nosso Senhor morreu, para oferecer minha alma a Satanás. Meu papai, porém, não acredita, e se ele não acredita nessas histórias bobas dos vizinhos, e se Lorenz e Werner também não acreditam, eu também não acredito. Mais de uma vez nossa Babá e Governanta mostrou a todos que ela é bondosa e caridosa e respeita o Credo e os Mandamentos e os Ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Diz ela que ela foi uma Noviça em uma Abadia em Nonnberg, mas que depois de algum tempo decidiu seguir um caminho cuidando de crianças por toda a Baviera, até chegar aqui. Gosto muito dela, pois ela me protege quando cai raios e quando ouvimos os lobos. Ela cuida da casa e tem feito tudo que mamãe fazia antes de virar um anjo de Deus. E todos os adultos gostam delas, mesmo o pastor dos luteranos von Gratz, que oferece culto a Deus àqueles que não se dão bem com a Igreja. É um culto estranho, mas se o Rei permite, quem sou eu para questionar?

Não tenho muito o que contar, pois sou novinha, como um livro sendo escrito (de novo a caneta!), mas aos 4 anos, entrei para o kindergarten, onde aprendi o ABC e a fazer contas. Lá aprendia tudo muito, muito rápido (Educação [BOM]) e aprendi a respeitar as professoras e os demais coleguinhas. Bem, ao menos não recebi muitas palmadas da palmatória.

Depois da batalha de Königseig, meu pai voltou do local para onde fomos mandados por proteção e eu entrei para a Escola da Srta. Schnell. Lá continuei demonstrando que era esperta: aprendi matemática e latim antes de qualquer garoto e mesmo antes da maioria das meninas. Nunca me dei bem com esportes; embora não fosse um desastre total, meu corpo não me ajuda. Em compensação, outra coisa onde me destaquei foram as aulas de piano, violino, música e teatro (Atuação [BOM]). Embora não consiga tocar as peças mais complexas, já consigo tirar algumas partituras de Valsas e Polcas de Herr Strauss no piano e no violino e sempre toco para as visitas em casa. Papai se esforçou bastante e junto com meus irmãos Christoph e Ulf me deram aos 8 anos um violino e um piano para poder praticar, o que faço todos os dias depois de chegar da escola e fazer minhas lições.

Uma amiga do papai, Fräulein Helga von Schnitzel, é quem me ensina o violino e piano. Ela estudou com mamãe em um colégio interno e conta muitas histórias sobre ela. Já toquei algumas vezes na igreja do bairro e as pessoas gostaram muito. Toquei também na minha Primeira Eucaristia a Ave Maria composta por J.S.Bach. Lembro de que papai chorou copiosamente de alegria e disse que mamãe estaria feliz com o Papai do Céu vendo como eu cresci.

Diferentemente de Werner, não tenho predileção pelas brincadeiras na rua, mas gosto de passear quando não estou estudando nem praticando no violino e no piano. Normalmente são Madame Luizianne e Fräulein von Schnitzel que me acompanham. Antigamente passeava sozinha, mas disse as madames que logo vou ser uma Fräulein, uma moça, e que já não cabe bem uma mocinha como eu sair andando sozinha pela cidade… Não que eu reclame: gosto de passear com elas, e sentir o cheiro dos pães da padaria de Herr Altermann, e das linguiças de Herr Bencke, e das tortas de Frau Dreher. Ainda não posso beber vinho e papai não permite que tome cerveja, mesmo as mais leves. Gosto de ver os brinquedos que Herr und Frau Franz produzem de madeira e os livros da livraria do Herr Rockenbach, onde pego as partituras que papai compra para mim quando preciso. Herr Rockenbach me deu uma vez um livro dos travessos irmãos Max e Moritz. Eu não gostei muito, mas Werner achou hilário.

Minha maior qualidade é que não sou bagunceira: Werner acha que sou certinha de mais e me chama de boba, mas não gosto de muita bagunça. Não sou toda certinha como algumas amigas minhas, que varrem o chão tão logo um grão de poeira caia nele, mas alguma ordem é importante. Além disso, sou bem-educada e não respondo com palavras chulas, como Werner, que teve a boca lavada com sabão por Madame Luizanne. Em compensação, papai me diz que eu não devia ser tão mimada, e que isso pode acabar “me estragando”. Meu humor é ótimo, mas as pessoas não devem ser más com meus irmãos e com minha família e com Madame Luizanne e com Fräulein von Schniztel, porque aí eu fico realmente brava. E quando eu fico realmente brava, faço traquinagens quase tão terríveis quanto a dos irmãos Max e Moritz!

Gosto de me vestir com roupas bonitas e que sejam confortáveis. Não preciso de roupas amplas, mas não me sinto a vontade em roupas que parecem que vão me tornar uma estátua. Se me sinto desconfortável em uma roupa, não consigo ficar quieta, então a melhor forma para eu ficar quietinha é me deixando em uma roupa que eu não fique muito apertada. Sou uma menina dinâmica e romântica, segundo papai, e pelo que Fräulein von Schnitzel e Madame Luizanne dizem, ele está com a razão.

As coisas que mais gosto são os livros que papai me comprou, como Cachinhos Dourados e as Fábulas de Esopo, meu violino e meu piano. Gosto também de Äpfelstrudel, do pão fresco do café da manhã e do cheiro de alecrim que Madame Luizanne coloca todos os dias debaixo do meu travesseiro (ela diz que é para ajudar na memória). Não gosto de pessoas malvadas (como às vezes Werner é) e nem de brigas. Fico muito triste quando vejo os outros tristes: papai me chama de “manteiguinha derretida” quando isso acontece. Gosto de viver a vida e deixar os outros viverem a vida: não sou intrometida e respeito segredos.

De tudo o que eu tenho, o que mais prezo, sem sombra de dúvidas, é o violino que papai me comprou: não é um violino muito caro, mas é muito bom, segundo Herr Schüür, o luthier onde levo meu violino. Acho o nome dele engraçado, parece que a boca da gente trava e é como se tívessemos assoviando, e Herr Schüür concorda comigo, e também acha o nome dele engraçado. Mas aí ele diz: “e quem é você, dona Canetinha, para escrever sobre mim alguma trovinha?” E nós dois rimos à bandeiras desfraldadas. Eu gosto de Herr Schüür.

Para mim, amizade conta acima de tudo: não tenho muitos amigos na escola, embora todos gostem de mim. Maria e Helga talvez sejam as melhores amigas que eu tenho: Maria é boa de esportes e muito forte, pois é filha de um ferreiro e Helga e muito, muito mais graciosa do que eu. Alguns dizem que a mamãe de Helga não é boa companhia, mas Helga não é culpada pelo que a mamãe dela faz de errado. Como disse: não se intrometam com a minha família ou com as pessoas que eu gosto mesmo. Essas pessoas são meu maior tesouro, maior até mesmo que o meu violino. Se pessoas más algum dia seqüestrarem alguma pessoa que eu gosto e me exigirem meu violino, darei de bom grado. Violinos você pode comprar quando quiser: pessoas são únicas.

Se tem um garoto que eu não consigo suportar de forma nenhuma é aquela peste que Werner chama de amigo chamada Dominic Stahl. Ele não sabe nada de nada, não estuda, chega algumas vezes até cheirando mal na escola. Ele é um capeta que não respeita ninguém, assobia na sala de aula e que chegou a colar chiclete no cabelo da coitada da Hannah Tietböhl! Deus, o que será que esse garoto tem que ele não sossega! Mesmo depois de ter levado uma sova da professora no bumbum e ter ficado com chapéu de burro o resto da aula no canto da sala, ele não sossega.

Mas tenho também bons amigas e alguns amigos, como Roland Westendorff. Ele atua conosco nas peças de teatro, e está me ensinando na escola a jogar xadrez, damas, ludo e alguns jogos de cartas. Ele também é um dos poucos meminos que conseguem colocar Dominic na linha, o que ajuda bastante para eu gostar dele.

Eu quero no futuro (Profissional) ser uma musicista famosa em todo o mundo e (pessoal) conhecer locais exóticos como o Brasil (tenho uma tia lá, que mora em um local chamado Pampas e que escreve todos os meses longas cartas para mim) e a China. Quero também me apresentar para o Rei e quero que papai seja bem rico e que Christoph e Ulf sejam generais que protejam a Baviera dos malvados que vivem nos países nossos inimigos. Quero que Stephen seja um cientista, para o que ele está estudando, e (Romântico) quero ter uma família grande e feliz como papai teve com mamãe e quero que todos sejamos muito unidos até quando todos formos para o Céu.

A coisa da qual mais até agora me arrependo é de ter machucado Werner: foi a única vez que machuquei uma pessoa e me assustei muito. Queria pregar uma peça no Werner e fiz “BUUUU!” atrás dele quando ele estava sentado no parapeito da janela do quarto dele! Ele caiu pela janela e se esborrachou no chão e gritou muito de dor… Eu chorei muito e pedi desculpa, desculpa sem parar! Papai viu e ficou muito assustado e nervoso e me deixou de castigo por uma semana e Madame Luizanne me fez usar chapéu de burro o resto do dia e fiquei chorando muito o dia todo, preocupada com Werner e com medo de ter aleijado meu irmão. Não fui desobediente e aceitei os castigos que papai e a Madame Luizanne me impuseram: eu fui malvada e mereci o que recebi. Meu maior medo era que Werner tivesse realmente se machucado gravemente. Graças a Deus, Werner teve apenas o braço envolto em gesso e não teve problemas maiores, exceto ficar alguns meses com o braço daquele jeito. Mas ainda choro muito quando Werner me lembra daquilo, e ele depois pede desculpa, pois eu não queria mesmo que ele se machucasse. Ele sabe que eu jamais faria algo de propósito para o machucar. Até hoje, para lembrar o que eu fiz aquele dia e nunca mais fazer, guardo aquele chapéu de burro, e Madame Luizanne diz que eu faço certo, embora não seja fácil. Como ela diz: “uma mocinha sabe o que fez de errado, e você sabe que o que fez é errado e o fato de você guardar esse chapéu de burro, que fiz você usar aquele dia todo é sinal de que você vai ser uma Fräulein, uma mocinha digna“.

Me orgulho muito de ter tocado a Ave Maria na Primeira Eucaristia. Primeiro porque é uma peça linda e que me lembrou mamãe. Segundo, um segredo que nunca contei a ninguém: eu tenho a impressão de ter visto mamãe na forma de um anjo no meio do coral quando eu tocava a Ave Maria. Havia uma moça parecida com ela nas fotos e que me olhava com um olhar doce enquanto eu tocava. Eu não sei se isso foi verdade ou minha cabeça que ficou meio abilolada de cansaço da cerimônia, mas até onde sei, vi mamãe naquele dia.

Não tenho muito mais o que dizer nesse momento. Sou uma criança que vive em Werlangstrasse, número 4, perto da estação de trem Werlangbahnhof, Alt München, e que passa os dias a tocar seu violino e seu piano, passeando, jogando ludo e algumas vezes fugindo do seu irmão pestinha. Talvez um dia viva aventuras maravilhosas como as das Mil e Uma Noites e da menina Alice ou mesmo a de Wendy que voou até a Terra do Nunca com Peter Pan e enfrentou o malvado Capitão Gancho. Mas até então, vou escrever meu destino como uma caneta está escrevendo essas linhas nessee diário. Afinal de contas, como diz Herr Schüül, já que sou uma canetinha, vou escrevendo sobre minha vida um trovinha.

De sua amiga, Sabine.

Werner Füllfedehalter

München, Baviera

5° dia do mês de Agosto, 1870

Estou escrevendo isso como tarefa de escola da professora von Hasten. Não quero usar chapéu de burro mais uma vez, e nem da motivo para a chata da minha irmã Sabine para me importunar. Além disso, se eu não fizer essa lição, vou ficar no quarto sem sobremesa por dois dias, então é melhor eu fazer isso logo de uma vez.

Meu nome é Werner Füllfederhalter. Não sei porque nossa família tinha que ter um nome bobo como esse. Todos os meus amigos caçoam de mim, mostrando as canetas tinteiro que usam na escola. Afinal de contas, esse é meu nome no nosso idioma. Somos em cinco em casa: meu pai, Gellert Füllfederhalter, meu irmão Lorenz, eu, minha irmã mais nova Sabine e a governanta, Madame Luizanne. A nossa casa fica na Werlangstrasse, número 4, perto da estação de trem Werlangbahnhof, Alt München. É uma casa comum, pintada em azul claro, com parapeitos brancos e tudo o mais. Não é legal como um castelo de um cientista maluco ou qualquer coisa do gênero. Uma casinha como qualquer outra. Eu durmo em um quarto com meu irmão Lorenz, enquanto papai dorme em outro quarto e o terceiro fica para Sabine e a governanta. Ainda tem três quartos para meus irmãos mais velhos que não moram mais em casa e dois para hóspedes. A casa é grande, mas o piano de Sabine fica na sala, o que é ruim, pois diminui o espaço para poder brincar.

Eu nasci no 4° dia do mês de abril do ano de Nosso Senhor de 1858, filho de Gellert e Martina Füllfederhalter. Meu pai, assim como meus irmãos, é alto, com cabelos morenos fartos e um grande bigode. Eu ainda não tenho barba, mas os primeiros pelos de bigode já começaram a aparecer no meu lábio superior. Tenho os mesmos olhos castanhos de meu pai, e isso me deixa com uma aparência muito comum no nosso país. Quando eu estava para completar 3 anos de idade, mamãe deu à luz à minha irmã mais nova Sabine. Porém, algumas horas depois, devido à complicações no parto, mamãe morreu. Acho que eu não consigo me dar bem com Sabine por causa disso: quando era menor, até uns 5 anos, eu a culpava pela morte da mamãe. Foi quando papai me disse que mamãe já sabia que o nascimento de Sabine seria complicado, e que as duas poderiam ter morrido no parto. E que mamãe pediu para que cuidássemos de Sabine e vívessemos de maneira boa e feliz, respeitando e amando uns aos outros como ela tinha feito. Eu passei então a respeitar mais Sabine.

Como disse, somos em 7 irmãos: Sabine, a mais nova, é uma bobona. Ela é toda cheia dos não-me-toques, como qualquer menina na sua idade. Mas tenho que admitir que ela toca muito bem o piano e o violino, e que ela me respeita como irmão mais velho: podemos não nos dar muito bem, e às vezes chegamos a brigar, mas lembro do dia em que ela falou várias palavras feias para o Rolf von Metersacher, o que por si só já era algo do seu feitio, e quase apanhou dele. Ela provou-se corajosa naquele momento, mas quase fomos surrados pelo Rolf. Quando ele ergueu a mão contra minha irmã, eu vi vermelho: peguei meu estilingue e mandei-lhe uma pedra bem entre os olhos(Tiro[BOM])! Quando ele então mandou o resto de sua turma tentar me bater, eu parti para cima, e teria levado uma bela surra se não fosse o amigo da Sabine, Roland Westendorff ter nos ajudado. Ele é realmente corajoso para alguém gordinho como ele, e não sei que raios era aquilo que ele estava usando, mas funcionou muito bem: ele parecia uma arminha de brinquedo, mas atirava amendoins mais rápido que um dos reciprocadores dos prussianos!!! Conseguia ver a cara de raiva do Rolf e isso me fazia rir. Não suporto o Rolf.

Meu primeiro irmão mais velho é Lorenz, com 15 anos. Ele é o mais esperto entre nós que ainda moramos aqui: ele está estudando no Instituto de Ensino Científico Real, a nova escola para aqueles que querem se tornar cientistas. Ele sai todo dia cedinho e toma o bonde na frente da Werlangbahnhof e vai até o centro, passando em frente à Residenz do Rei Luiz Segundo, e passa praticamente o dia inteiro lá, estudando. Mas quando ele volta, ele conversa comigo sobre tudo, inclusive sobre como nossos vizinhos são crédulos: eles acreditaram em uma bobagem sobre a Governanta ser uma bruxa maligna que mata crianças em rituais de Magia Negra e que ela é envolvida com Satanismo. Lorenz me explicou que isso se deve ao fato de ela assumir que estuda os livros do tal Alan Kardec, e a Igreja diz que isso é ruim. Porém, a Madame Luizanne já cuidou de metade das crianças da vizinhança, e no fim das contas essas histórias são boatos das velhas que não têm mais o que fazer além de fofocar sobre a vida alheia. Diz Lorenz que viu alguns negócios que pode ser relacionado a Magia, mas ele não acredita nessas bobagens e diz que é tudo superstição de camponês. Eu concordo com ele (Feitiçaria[FRA]), pois tudo deve ter explicação na vida, ou ao menos é o que diz Lorenz. Ele é quem me ensina a jogar damas, xadrez e whist. Ele estará começando na virada para o Outono a trabalhar no Instituto de Pesquisas Científicas do Reino. Espero que ele trabalhe em algo equivalente ao Canhão Colúmbia dos Franceses para nos proteger dos prussianos e de outros caras maus, mantendo nosso Reino da Baviera um país livre e igual, protegido por Deus e pelo Rei.

Os gêmeos Stephan e Ralf, que têm 18 anos já deixaram de morar aqui em casa, mas continuam morando em Alt München, próximo à Catedral, em um conjunto de casas chamado Schwartzhundplatz. São casas um pouco mais simples, mas os dois precisam morar mais perto de onde trabalham. Ralf é boêmio e um artista cômico que trabalha na Companhia de Teatro de Klaus Strassberg, onde atua fazendo papéis humorísticos satirizando o Conde von Bismarck. Ele até mesmo tem uma prótese falsa que emula a prótese do Conde! Eu já vi ele no palco e é uma coisa hilária, Ele sabe do talento de Sabine para a música e a estimula, mandando cópias das partituras das músicas que usam nas peças para ela estudar. Já Stephan é um auxiliar no Instituto de Pesquisa Científica do Reino. Seu ramo de atuação é a Eletricidade, em especial às teorias de Tesla. Ele me explicou por alto e não entendi muito bem, mas parece que o Rei deseja criar uma Arma Secreta que rivalizará com o Canhão Colúmbia, usando bobinas de Tesla para criar um arco de energia muito poderoso. Ele me mostrou algumas simulações que ele fez em porte muito menor: são legais, mas servem no máximo como brinquedos. Os dois atuavam como negociantes com a Ruritânia para as canetas da empresa do papai, mas com o tempo preferiram seguir seus talentos. Papai entendeu-os e deu-lhes a benção, mas ele não tem como ajudar mais que isso: ele tem que sustentar a nós que moramos com ele.

Já os meus irmãos mais velhos se chamam Ulf, com 20 anos, e Christoph, o mais velho com 22 anos. Os dois trabalham para o Rei em missões secretas. Na última vez que nos visitaram no Natal, tinham acabado de voltar de Macau, onde encontraram os Imperadores Dragões (que realmente são Dragões) para negociar uma forma de resolver em paz a Guerra do Ópio. Ele me falou de monges lutadores que voam no ar quando lutam e são capazes de pegar flechas no ar e aparar tiros com suas lâminas exóticas. Ele me mostrou uma faca estranha que ele ganhou de um desses monges que são aliados do Segundo Compacto (seja lá o que for isso): uma lâmina parecendo o rabo de um peixe, com fio em toda a lâmina à exceção de uma pequena empunhadura. Também me mostrou um bastão que pode ser separado em três partes por meio de correntes e vira uma arma muito estranha. Gosto de ouvir o que eles falam, pois alimenta meus sonhos de batalhar pelo Rei e pela Pátria, em missões pelo Bem e pela Honra. Não tenho medo dos rufiões de Bismarck e dos Lordes de Ferro da Inglaterra e nem dos taís espíritos maus da Faerie. Papai me disse para ser um bom irmão para Sabine e a proteger, e vou usar meu punhos para a proteger se isso for necessário (Coragem [BOM]).

Sou um pouco mais baixo do que seria para a minha idade na família: minha marca de altura para minha idade fica um pouquinho a baixo das dos demais, à exceção de Stephan e Lorenz. Mas com certeza Sabine vai ficar abaixo de mim, pois ela é muidinha! Sou bem forte e resistente, aguentando muito bem as brigas com as outras turmas da escola (Compleição Física[BOM]). E se tentam me bater, posso apanhar, mas sempre mando alguém de volta para casa com olho roxo (Briga[BOM]). Papai não gosta da idéia de eu brigar, e queria que me aplicasse mais aos estudos: ele acha que ninguém irá assumir a fábrica de canetas da família. Não que eu não goste de canetas, mas eu quero viver pelo País e pela Glória. Meus estudos não são ruins e não tenho notas vermelhas, mas não sou como Sabine ou Stephan ou Lorenz, e sim mais a Ulf e Christoph: eles me ensinam como esgrimar e lutar quando vêem em casa, e Christoph me mostrou golpes estranhos que ele aprendeu no Oriente, onde passou um ano inteirinho e aprendeu técnicas estranhas de luta com nomes como “Golpe do Deus Macaco” ou “A Dança do Senhor Louva-a-Deus”.

Gosto muito de brincar nas redondezas: existe um bosque onde brincamos de esconde-esconde e reunimos nosso clube, contamos histórias e jogamos damas e cartas. Além disso, vamos pescar no lago e brincamos muito no parque. Sou um bom pescador: toda vez que vamos no lago, trago pelo menos umas três trutas fresquinhas para o jantar, e até mesmo já peguei um belo salmão. Não gosto de ficar em casa, pois não tem coisas divertidas para fazer lá: o máximo que tem para fazer é ler as histórias de Max e Moritz e ver Sabine tocando violino e piano sob supervisão da Fräulein von Schnitzel. Não tem graça ficar lá, portanto fico passeando pelas ruas e brincando com a minha turma. A gente faz algumas traquinagens, como roubar um pão doce da padaria ou coisas do gênero, mas não somos malvados como a turma do Rolf… Talvez o mais capeta de nós seja o Dominic Stalh… Sei que Sabine não gosta dele, mas o que posso fazer? Ele faz tantas traquinagens pois dizem que ele tem ódio de meninas: dizem que ele mora em uma casa onde só tem mulheres e que elas ficam tentando fazer ele usar roupa de menina toda santa vez. Não sei se isso é verdade e prefiro não saber: os últimos que souberam voltaram para casa bem machucados, e Dominic só não mandou gente para o hospital pois nós paramos ele antes. Talvez seja por isso que ele faz tudo o que faz, como ir para escola fedendo e colocar sapos nas bolsas das meninas. Eu não aprovo o comportamento dele, mas enquanto ele respeitar as normas da nossa turma, ele fica.

Todos os Domingos vamos para a Igreja, como Católicos tementes a Deus. Papai faz questão que todos estejam muito apresentáveis, o que no meu caso quer dizer terno, gravata, calções e meias brancas bem limpas, com um chapéu encimando tudo. Não gosto muito dessa roupa, mas não me importo muito: papai não é muito rígido conosco, e se nos comportamos bem na Igreja no Domingo, passamos no Cafe do Monsieur D’arman, que fica em frente a estação Werlangbahnhof, onde papai permite que tomemos nosso café-da-manhã (a gente faz jejum antes da missa) com crepes franceses com geléia e até mesmo com sorvete quando é verão. Podemos pedir também tortas de amora, äpfelstrudel, biscoitos de aveia e café, chá, chocolate quente ou refrescos. Quando papai está de bom humor e é inverno, ele nos deixa tomar chocolate quente com uma leve dose de Schnaps que o Monsieur D’arman faz. Normalmente nosso desjejum é feito em casa, e não temos crepes, embora tenhamos pães, linguiça e queijo. Embora seja muito gostoso, acho mais divertido tomar o café-da-manhã com crepes e äpfelstrudel e café, e ver toda a movimentação dos estrangeiros que chegam até Alt München pela estação, vindos da França, da Inglaterra, do Império da Austro-Hungria e até mesmo de lugares mais exóticos, como o Congo, Macau, Hong Kong, Brasil e Estados Unidos. Todos falam muito engraçado, e às vezes é difícil entender o alemão que eles falam, quando não falam francês, inglês, ou outros idiomais estranhos, como quando alguns monges da China vieram e fizeram uma algaravia estranha de sons quando comeram nossos pratos doces. Meu irmão Christoph, que aprendeu a falar e entender o que eles falavam, me disse que eles comem arroz todos os dias pela manhã, junto com tempeiros estranhos e até mesmo coisas bizarras, como escorpiões e grilos! Talvez seja por ter tantos estrangeiros e eles comentarem sobre coisas estranhas é que gosto dos cafés-da-manhã de domingo no Monsieur D’arman, pois descubro como tem coisas diferentes no nosso mundo, como o Presidente dos Estados Unidos Ulysse S. Grant: ele não é descendente de dinastias, mas ainda assim comanda um país. E, mais estranho, foi escolhido pelo povo: desde o mais ignóbil membro da ralé até os maiores intelectuais votam e a pessoa que tiver mais votos passa a mandar! E cada um tem o mesmo valor no voto, não interessa se é um vagabundo ou um intelectual, um assassino ou um empresário, uma cortesã ou uma noviça! Que coisa estranha! Que país estranho deve ser os Estados Unidos!

Meu irmão Christoph tem me estimulado para seguir o caminho de um Soldado do Rei: ele disse para papai que tenho todos os talentos e que, quanto tiver idade, quer que eu seja seu auxiliar no Exército. Sou honrado, leal e companheiro. Para o bem ou para o mal, meus amigos e família podem contar comigo: mesmo Sabine sabe disse e respeita isso, e apesar de tudo que aprontamos um com o outro, nunca fomos longe demais, e se o fizemos nos arrependemos amargamente. Sabine que o diga: não posso lembrar ela do dia em que ela me fez cair da janela e quebrar o braço que ela chora que nem uma manteiga derretida. Nunca vi papai ou a Governanta ficarem tão bravos com Sabine como naquele dia, e ela mesma sabia que ela foi má comigo. Acho que ela apenas queria me pregar uma peça e não pensou que poderia ter um acidente. Mas doeu muito, muito mesmo, e até hoje meu braço dói de vez em quando por causa disso. Mas não fiquei aleijado, como todos imaginaram. Eu voltei para casa dois dias depois, com o braço em uma tala de gesso, e fiquei vários meses assim. A Governanta sempre me observava e fazia alguns gestos no meu braço… Ela me dizia que estava ajudando o meu braço a se curar com um Encantamento que aprendeu quando era postulante a Noviça em Nonnberg, um Encanto Mágico de Deus que ela usa até hoje. Não acredito nessas superstições, mas algo me diz que isso funcionou: quando fui ao médico dois meses depois, ele mandou remover metade da tala. Dois meses depois, coloquei uma tala diferente, com menos gesso, e duas semanas depois, meu braço estava praticamente novo em folha. Até hoje eu sei que a Sabine guarda o chapéu de burro que a Governanta fez ela usar o resto daquele dia, para lembrar ela de não ser mais malvada.

Se tenho defeitos? A Governanta diz que todos temos e que temos que melhorar continuamente, que apenas Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo foram perfeitos e santos. E santo é uma coisa que definitivamente não sou: não sou encapetado como Dominic, mas faço das minhas traquinagens. A Governanta me faz guardar cada chapéu de burro que uso, como lembrança de cada traquinagem mais série. Ela diz: “você já é um mocinho, Werner, e mocinhos tem que aprender a se comportar e não ser como burrinhos que zurram e fazem bagunça por onde passam!” Ela também me disse que eu poderia ser mais asseado: não raro volto da rua sujo de terra e lama das lutas e fico o dia inteiro com a mesma roupa. Aí a Sabine vem e diz que estou fedido, e é eu indo para o banho. E tome chapéu de burro E sempre quando isso acontece, alguém da minha turma passa em casa. E eu fico constrangido… Se bem que acho que ela tem razão. As meninas parecem gostar mais de garotos que se cuidam: não precisa ser algo efeminado como o Johannes, mas papai diz que verdadeiros homens têm que saber o que as mulheres querem. Sou curioso pela vida e pelas coisas do mundo: não me interesso por Grandes Maquinações e Mistérios Metafisicos, como alguns de meus amigos.

Gosto de passear por aí, e de doces fritos, e das torradas da Governanta, e dos cafés-da-manhã no Monsieur D’arman. Gosto dos meus amigos, como o Hans, o Roland, o Ulf e o Schmidt… Tem até uma menina que faz parte da nossa turma, a Ludwiga von Katzwein. Ela é uma das meninas mais fortes da nossa idade e briga com qualquer garoto de igual para igual. Se ela se abaixar para pegar uma pedra, todos os garotos sabem que o melhor a fazer é correr que nem um maluco, e AI DE VOCÊ se você for visto pela Ludwiga fazendo maldades a uma menina! Ela vai fazer você voltar para casa com o olho roxo e vai contar para a Alt München inteira. Ela é quase mais menino que muitos meninos que eu conheço. Mas não pense que ela é bruta: ela pode não ser uma daminha como Sabine, mas ela é esperta e conhece as coisas. Ela nunca tirou notas ruins.

Meus melhores amigos, além da Ludwiga von Katzwein e do Roland Westendorff, é o Kaspar Löwe. Ele é meu melhor amigo e companheiro de arruaças: ele vivia nas ruas de Alt München até que foi adotado pela Fräulein Hedwig Löwe. Kaspar é alto e moreno e muito mais forte que a maioria dos meninos da nossa idade, e pratica na escola o Pankration, um tipo de luta grega que o professor Niklos de grego trouxe para a escola, sendo um dos melhores de nossa escola e já tendo vencido rapazes mais fortes e maiores que qualquer um de nós, erguendo-os do solo e os arremessando no chão. Nas lutas de torneios e exibições ele pega leve, mas já vi uma vez ele machucar um outro garoto da turma do Rolf de maneira bem feia. Kaspar não é mal, mas quando fazem algo com alguém que ele protege, como eu e Sabine, ele vê tudo vermelho!

Falando da turma do Rolf, não suporto nenhum deles, mas em especial eu odeio o Rolf von Metersacher. Filhinho de papai, o pai dele é o Condestável do Bairro, que cuida da vigilância daqui. E embora Herr Matthäus von Metersacher e sua esposa Frau Adalfrieda von Metersacher sejam realmente boa gente, o filho único é uma laranja estragada, Ele parece sempre bonzinho e tudo o mais, educadinho… Mas se estiver longe dos adultos, ele mostra suas garras, fazendo o diabo. Ele bate nos menores, rouba doces das crianças pequenas e faz outras muitas maldades. E o pior é que ele consegue sempre escapar incólume, Eu não suporto tipos como ele, e o pior é que acredito que Dominic gosta dele. Não sei dizer se isso realmente está acontecendo, mas se for verdade, eu vou acabar com nossa amizade. Posso aceitar traquinagens, mas como disse Christoph: “Werner, um homem deve ser sempre um homem, e um homem de verdade, mesmo quando faz o que não é certo, assume seus erros. Essa é a honra e a virtude de um verdadeiro homem temente a Deus!” E acredito que Dominic deve acreditar que vale a pena aprender com Rolf como “sair pela tangente”. A turma dele acha que Rolf é incrível: mal percebe que ele está os usando. Toda vez que ele rouba doces, quem paga o pato é o Alberich ou o Adolph ou qualquer outro da sua turma (e eles são muitos). Em compensação, mais de um deles passou para o nosso lado quando percebeu quem o Rolf realmente era, como o Bodo Kaspian, que é filho de ex-Criméios que fugiram da guerra entre a Rússia e a Austro-Hungria. Quando ele percebeu que estava sendo usado e decidiu que iria contar para o pai de Rolf quem ele realmente era, tomou uma tamanha surra que, se não fosse por mim, Ludwiga e Kaspar, ele teria ido para o Outro Mundo. Sabemos até quem surrou eles: foi o Brüno Nadel, um garoto que é considerado realmente perigoso. Dizem que ele vive na região mais turbulenta de Alt München, é filho de prussianos e que queria tentar matar o Rei durante Königseig. Claro que ninguém conseguiu provar nada: tivessem provado e ele teria sido enforcado como traidor! Por se envolver com caras como esse é que acho Rolf von Metersacher realmente mal!

Se tenho sonhos para o futuro? Sim: quero (Profissional) me tornar um Cavaleiro do Rei e proteger o nossos belo Reino da Baviera, (Romântico) conhecer uma bela moça como meu pai conheceu minha mãe e ser um marido exemplar como meu pai foi para minha mãe e (Social) ser um leal servo de Vossa Majestade, o Iluminado Rei Luiz, Segundo de Seu Nome, da Linhagem dos Wittlesbach, Rei da Baviera, Vencedor de Königseig e Líder do Segundo Compacto (ou assim menciona meu irmão em suas missivas a mim). Prezo minha família acima de tudo: qualquer um que mexa com minha família vai me fazer ver vermelho, e se algum rufião tentar alguma gracinha com minha pequena irmã Sabine, que Deus dele tenha toda a Piedade, porque provavelmente EU NÃO TEREI!

Alguma posse minha que eu preze? Talvez o meu estilingue: ele é tosco e feio se comparado com os dos outros garotos, mas tem uma coisa que me deixa feliz nele, é o fato de ele ter sido feito por mim. A Governanta, sabendo que meninos são meninos, me ensino como fazer o estilingue e até mesmo me deu os elásticos que ela usava em suas combinações que estragaram (ela pediu para eu não contar isso para ninguém, mas não creio que ela vá se ofender se eu escrever). Consegui cortar o elástico e tirar as farpas do galho que usei usando um canivete que me foi dado de presente por Christoph que o comprou quando ele foi até a Fortaleza Anã próxima, Kazak Corom, e que é feito de prata dos anões. É um canivete caro, segundo Christoph, mas que foi dado a ele de presente quando eles foram ajudar Tomas Olan e fugiram da Caçada Selvagem dos Unseelie! Mas o estilingue acabou ficando realmente bom, e atira pedras e balões de água mais longe que o da maioria, e é tão leve e fácil de usar que posso atirar mais pedras, mais rápido e com maior precisão que o de todos os outros meninos.

E essa é a vida do futuro herói da Baviera Werner Fullfederhalter, agora um menino de 12 anos como tantos outros, que não nega fazer suas sapequices e guarda cada chapéu de burro que tem que  usar por uma delas. Um menino como tantos outros, mas que ainda vai dar muitas glórias para a Baviera.

No fim das contas… Até que foi divertida essa lição de casa da Professora von Hasten.

Roland Westendorff

Alt München, Baviera

Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1870

19° dia do mês de Outubro

Esse ano temos um projeto especial na Escola que a professora van Hasten nos passou, que é manter até o final do ano letivo um diário com todas as nossas impressões da vida e com isso termos como nos avaliar depois. Como perdi o meu antigo, tenho que recomeçar…

Meu nome é Roland Mätthaus von Tandlendt Westendorff, filho do Capitão Mätthaus von Westendorff e da bela Dama Lena von Tandlendt Westendorff, filha do Conde Sebastian von Tandlendt. Sendo a segunda filha, não temos nenhum direito monástico à exceção de alguma herança que meu pai recebeu de dote e dos títulos vinculados, mas ainda assim não é grande coisa. Papai é nosso sustento, com suas atividades como Engenheiro de Cálculo a serviço do Mui Sereno Rei Luiz, o Segundo de Seu Nome, Rei da Baviera e vencedor de Königseig. Sou o terceiro e último filho, uma vez que depois que minha mãe deu à luz a mim, por algum motivo ela ficou estéril. Tenho apenas dois irmãos: Helmut, um capitão de Aerocruzador civil para o governo, com 26 anos; e Danielle, uma bailarina do corpo de Baile do Königsballlettheather, o corpo de Baile oficial do Rei, que é uma formosa dama de 21 anos. Quanto a mim, sou o pequeno pirralho de 9 anos de idade que papai chama aos risos de “raspa de tacho”. Eu compreendo-o: fui o último dos filhos dele, e teria idade até mesmo para, dentro de certas circunstâncias, ser seu neto.

Ao nascer, já não era um bebê pequeno, pesando em torno de 3 quilos. Continuei sendo gordinho até mesmo agora aos 9 anos, o que sempre me dificultou nas corridas e nos brinquedos dos outros garotos: não por eu não ser bom nos esportes, mas minha forma física não é tão boa quanto à dos demais garotos, embora não seja muito fora da média, porém (Compleixão Física[MED]). Em compensação, não abandono meus amigos, mesmo que isso signifique voltar para casa todo machucado (Coragem[BOM]).

Meu pai, como meu irmão, serviram em Königseig, ambos dentro do aerocruzador HMS Königseig: papai auxiliava na manutenção das Máquinas Diferenciais que faziam o cálculo para que as bombas que eram arremessadas sobre as malditas Fortalezas Móveis prussianas atingissem seus alvos, e Helmut como auxiliar de navegação do mesmo. Mamãe, eu e Danielle fomos evacuados, onde conheci Sabine Füllfederhalter e seu irmão Werner, os dois muito amigos, embora Werner às vezes seja um capeta. Sabine explicou o porquê de Werner ser assim: quando ela nasceu, a mãe deles morreu por complicações no parto.

O trabalho de meu pai nessa batalha o colocou em contato com o Segundo Compacto, uma organização secreta que luta contra os prussianos e os Unseelie para espalhar o mal e fazer com que nós seres humanos rompamos o Primeiro Compacto, onde dissemos que não iríamos atacar as fadas e que qualquer um de cada lado que atacasse o outro seria visto tão somente como um assassino, não um guerreiro. Não acredito muito nessas teorias estranhas sobre as Fadas, os Anões, os Dragões e sobre a Magia (Feitiçaria[FRA]), mas minha irmã comentou que isso é verdade, e que ela conhece pessoas que disseram para ela que isso é verdade. Papai também já esteve em locais muito exóticos, e trabalhou por algum tempo dentro do Nautilus, o submarino a vapor do Pirata Capitão Nemo! Disse papai que os atos deles são terríveis, mas que ele é um homem honrado acima de tudo: “Um dos nossos colegas na Nautilus, um oriental de nome Sho, disse certa vez que a sina dos anjos caídos é tornarem-se demônios, e que na terra dele alguns guerreiros aceitam essa sina para protejerem suas nações. Se isso for verdade, creio que o Capitão Nemo é um homem que sabe que o que faz é errado, e que aceitou a sina de tornar-se demônio frente a Deus para impedir as guerras pela ambição desmedida do Homem.” Não sei se concordo com isso, mas se for mesmo verdade, é de se admirar um homem como Nemo, ainda que não concorde-se com seus métodos.

Desde pequeno não me adaptei aos brinquedos infantis de correr e pular corda. Mas o que Deus me negou no Corpo, me fomentou na Mente: antes mesmo dos 3 anos, já falava e garatujava minhas primeiras letras. Aos 5 comecei a ver papai consertando engenhos mecânicos e Máquinas Diferenciais, e aos poucos fui entendendo o que dizem que a língua com a qual Deus escreveu a criação foi a Matemática! Aos poucos, fui ajuntando sobras que papai abandonava e criando meus próprios brinquedos. Aos 7 anos, construí minha primeira catapulta de pulso: uma colher e um mecanismo de corda adaptados, um carretel de linha usando um fio de alumínio anão, uma chave de corda e um elástico. Rolf von Metersacher foi o primeiro a sentir isso: ele tentou me roubar naquele dia, então peguei a catapulta de pulso e usei ela para atirar uma pedra bem no rosto dele! Ele saiu chorando e isso me custou algumas palmadas em casa de meu pai: “Roland Westendorff, você nunca, JAMAIS deve fazer o que fez! A Ciência não deve ser usada para ferir, mas para proteger. Você não é um maldito prussiano com cérebro belicoso para sair usando suas invenções para ferir. Admiro a qualidade do seu invento, mas deve ficar bem claro para você que a Ciência é para o Progresso e a Melhoria de Vida do Ser Humano, não para sua Destruição e Submissão!” Depois disso, continuei criando meus projetos, mas apenas para proteção, como fiz com o meu Reciprocador de amendoins: utilizando uma velha flauta doce quebrada, adaptei uma forma de recarregar o garrote de um estilingue com o mecanismo de uma velha pistora Derringer que achei quebrada próxima à estação. Juntando tudo, fiz um pesadelo na terra para os malvados da gangue do Rolf, quando tentaram bater no Werner e na Sabine: os amendoins acertavam eles muito rápidos e eles não podiam fazer nada, e tiveram que correr.

Meus dias são bem simples: acordo às 6 da manhã junto com o papai, quebramos nosso jejum com um pouco de pão, leite quente e mingau e então, quando papai vai para a oficina, eu vou para a Escola. Nós moramos em Lillandstrasse, próximo à Werlangbahnhof, no número 15. A casa parece muito grande, mas na verdade a maior parte da casa fica nos fundos, que entro por uma viela ao lado do 4 da Werlangstrasse, onde moram os Füllfederhalter e sua Governanta, Madame Luizanne. Ela é muito querida por todos, menos pelas velhas fofoqueiras, que dizem que é uma Bruxa que come bebês abortados. Fazer o que? O que podería se esperar de velhas que saíram dos vilarejos perto da Floresta Negra com suas histórias de terror sobre o doppelgäenger e sobre a Branca de Neve e a tal Menina do Capuz Vermelho que foi devorada por um lobo. Existe sabedoria nas coisas antigas? Existe! Mas acho que mulheres como elas deveriam cuidar mais de suas famílias do que julgar os outros pelas aparências.

Como disse antes, aos 5 anos, quando ainda estava no kindergarten, fiz a Catapulta de Pulso para me proteger dos brigões. Mas isso não foi a única coisa que fiz: dei de presente no aniversário de Sabine uma caixinha de música ao som de polcas de Herr Strauss, utilizando componentes velhos de uma pianola, e fiz um carrinho movido a corda para dar a Werner (Mecânica[BOM]). Já fiz também um motor a vapor para um carrinho de caixote que eu experimentei no parque e me diverti muito, até ele quebrar. No kindergarten eu também tinha muita facilidade com todas as matérias, à exceção de Esportes e Artes (Educação[BOM]). Embora não seja excepcionalmente ruim nas Artes, sou levemente desengonçado (Atuação[MED], Trato Social[MED]), o que não me torna uma boa companhia ao dançar a polca e a valsa. Mas ainda assim, posso atuar de maneira razoavelmente competente nas peças da escola, e posso inclusive fazer alguns bons papéis cômicos.

Agora, na escola, tenho me saído muito bem estudando latim e matemática, e os professores têm se impressionado com meu conhecimento em geografia e história natural. Também sou bom em História e quase todas as outras matérias. O que não me torna muito querido pelos demais garotos: sou muito esperto e isso, obviamente, chama a atenção para as suas deficiências. Então todos tentam me agredir, mas isso vai mudar logo logo, quando a minha Pistola de Alfinetes Tesla estiver pronta: usando uma pequena bateria de eletricidade que pode ser carregada por um mecanismo a vapor simples, ela lançará pequenos alfinetes com uma carga de eletricidade: pequena o bastante para não machucar, mas grande o bastante para fazer doer. Minha idéia é conseguir tempo o suficiente para fugir, mas claro que estou com ela adaptada para uma segunda situação mais arriscada: mudando uma chave, ela irá disparar um arco voltaíco que irá derrubar até mesmo um adulto bem forte no chão! Vi esse projeto em uma revista de ciência e decidi fazer uma tentativa.

Quando volto da escola, fico na Oficina do meu Pai, a Westendorff Elektrodinamik Apparat und Dampfantrieb Geräte GmbH: fico a maior parte da tarde mexendo com coisas que meu pai descarta e criando alguns brinquedos. Depois vou para o Werlangplatz testar algumas invenções, como um passarinho movido a vapor, ou um carrinho com mecanismo de corda. Alguns inventos, porém, testo perto do lago, em um local isolado, onde corre menos risco de machucar alguém por acidente. Como o que aconteceu com a minha Pistola de Bombas de Fumaça Multi-Função: quando fui testar a Bomba Fedegosa, tinha uma moça passando por perto e ela começou a passar mal do mal-cheiro da fumaça! Foi outra vez que meu pai me deu umas palmadas por ter feito bobagem. A sorte é que isso aconteceu com a Bomba Fedegosa, e não com a Bomba de Confusão: se aquela bolinha laranja tivesse estourado, estaria em sérios apuros!

Alguns dias, porém, gosto de passear e ver os outros garotos brincarem com pipas e piões e afins. Eu mesmo gosto de empinar pipa de vez em quando, mas nunca tive uma: curiosamente eu consigo fazer todo tipo de coisa estranha e maravilhosa como brinquedo, mas não consigo fazer uma mera pipa… Gosto de ver os bufões e os artistas de rua, e gosto de jogar as Diversões Portáteis que papai me deu. Curiosamente, achei um livro que explica como criar sua própria Diversão Portátil e tenho criado algumas: estou produzindo Guerra de Mundos, um jogo de guerra similar aos usados pelos soldados para estudo de batalha baseado nos eventos da invasão de marcianos em Londres e em outros lugares. O jogo contará com pontuações e formas de produção equilibrada de tropas. Já ando testando com alguns amigos esse jogo e eles têm gostado muito.

Diferentemente da maioria da vizinhança, no domingo não vamos para a Igreja de manhã: isso pois papai costuma voltar muito cansado no fim de semana do trabalho e ele não está muito disposto para ir à Igreja. As pessoas ficam muito receosas de conversar com a gente, embora tenhamos o hábito de ir à Igreja no horário da tarde. Normalmente de manhã vamos até o Café de Monsieur D’arman tomar café da manhã. É quando papai recebe suas novas revistas sobre invenções e manuais para Máquinas Diferenciais. Eu sempre dou uma pescoçada nesses manuais, e algumas vezes papai me dá os mais antigos. Tenho criado algumas coisas baseadas neles, mas nada ainda funcional, apenas funcionando como brinquedo.

Sou bastante esperto e determinado, o que é muito bom para o trabalho com a Ciência, segundo meu pai diz. Porém, às vezes, sofro com o isolamento das outras crianças: dá a impressão que estou pagando caro demais pelo que sei e pelo que faço. Queria ocasionalmente que as outras crianças não me olhassem como seu fosse um Servo do Adversário Unseelie. Mas estou agora conseguindo me aproximar das demais, conforme entendo que posso fazer coisas divertidas e úteis para todos: estou adaptando um projeto de um certo James Plimpton dos Estados Unidos para patins com rodas, colocadas em sapatos especiais, como nos patins de gelo, para que as pessoas possam andar muito rápido por aí. Consegui criar uma forma simples de fazer e papai fez alguns com os quais saímos por aí patinando. Sabine, Werner, eu e Ludwiga saimos patinando por aí e isso é muito divertido. Embuti também um truquezinho em nossos patins (diferentemente do que outras crianças conseguem fazer): dando uma batidinha da maneira certa, um pequeno motor à corda é acionado que permite que a força aplicada no movimento de patinar seja multiplicada, aumentando a velocidade e aceleração. Claro que isso não deve ser usado o tempo todo, pois isso pode tornar as coisas perigosas!

O que mais prezo é o uso da Ciência pelo Bem da Humanidade, o que explica meu total desprezo aos prussianos: a Ciência não é culpada pelas mazelas da sociedade, mas sim a Ambição e Prepotência das pessoas que usam a Ciência de uma maneira terrível, explorando crianças e mulheres e deixando milhares doentes e feridos! Não é para isso que a Ciência existe! A Ciência existe para amenizar o sofrimento humano, não para aumentá-lo! O que mais desprezo são as pessoas que não são capazes de fazer algo por si próprio: papai sempre me ensinou a pensar por mim mesmo, e correr, e pular, e nunca fugir de uma luta. Vagabundos e fanfarrões, pessoas que não se importam com nada a não ser aquilo que possam tomar dos outros, não são dignos de meus pensamentos. Essas serão as únicas palavras que escreverei sobre elas!

A coisa que mais me arrependo… Talvez foi quando matei um gato por acidente ao atirar uma Bomba de Borracha no teste da Pistola Multi-Função. A força estava muito grande e a bola saiu rápida demais e atingiu o gato. Ele estrebuchou e morreu. Nesse momento, chorei um pouco ao perceber o que papai fala: a Ciência existe para Proteger A Vida, e não Destruí-la. Eu me arrependo de não ter tomado os devidos cuidados, e apenas agradeço ao Senhor Deus que não foi uma pessoa ali. Não dizendo que a vida de um gato não seja importante.

O que mais me orgulho? Minhas invenções; a Catapulta de Pulso, a Pistola Multi-Função, o Estilingue de Repetição, os Patins com Acelerador e por aí afora. Papai me falou certa vez: “Filho, aplique 100% de você ao criar algo. A função de um construtor, um Engenheiro, um Engenheiro de Cálculo, um Inventor, é criar. Quando criamos, somos como artistas: os materiais são a tinta, as ferramentas os pincéis. Criamos coisas belas que podem ajudar os outros. Por isso um verdadeiro Cientista, um verdadeiro Inventor e Construtor cria coisas pelo Bem da Humanidade. Ao Criar algo, deixamos algo de nós nelas, como existe algo de Shakespeare em Hamlet e algo de Wagner em suas obras. Podemos ajudar a humanidade, mas temos também que ajudá-la a ajudar-se.” Acredito nisso como uma Profissão de Fé. Minhas Invenções não são para machucar, mas para proteger e defender. E esse é meu objetivo.

Meus objetivos para o futuro? Bem, no futuro quero (Profissional) ser um Inventor Famoso e honrado a trabalhar pelo Rei e pela Pátria da Baviera, (Romântico) ter uma boa Esposa e filhos vigorosos e que tomem seus próprios caminhos orgulhosamente e (Social) fazer com que a Ciência seja uma forma de Promoção do Bem e da Justiça. Cabos Telegráficos, Máquinas Diferenciais, Gravador Abercrombies e outras invenções surgiram de mentes às quais Deus deu inspiração para levar Paz, Esperança, Justiça, Igualdade e Fraternidade a todos. E quero participar disso: quero ser alguém a Promover a Paz pela Ciência, usando o poder de pensamento que Deus deu ao Ser Humano.

Inimigos? Talvez Rolf von Metersacher: ele é irresponsável e covarde, alguém que se esconde atrás de outros, Colocaria aí também, seu “segundo em comando” Anton Bieber, que também gosta de fazer invenções, mas sempre para machucar e prejudicar os outros. Por exemplo, ele criou uma placa metálica que causa choques que machucavam as meninas e faziam elas ficarem despenteadas e outras coisas assim. Ele não é uma pessoa confiável, e vi que ele anda saindo e entrando da floresta com o Brüno Nadel. Pelo que fiquei sabendo, eles estão procurando cobras e escorpiões… Isso não me parece nada bom.

Quanto a Aliados: sempre posso contar com os Füllfederhalter e com Ludwiga von Katzwein. Não sinto nenhuma falta de amigos com eles ao meu lado. Ludwiga e Werner são bons de briga e não fogem do que é certo, enquanto Sabine é uma menina adorável e capaz de fazer até mesmo o Conde von Bismarck chorar, incapaz de maldades a qualquer um. E tem muitos outros amigos na nossa turma: a turma que temos na escola é muito unida e não temos medo de proteger-nos uns aos outros.

Quanto a mim, é assim que vivo: lendo revistas de ciências, brincando com sobras do meu pai e mexendo muita coisa para gerar Ciência que ajude e proteja meus amigos.

Ludwiga von Katzwein

Alt München, Baviera

Ano de Nosso Senhor de 1870

1° dia do mês de Agosto

Bem, não sou muito adepta de escrever diários, mas a professora von Hasten nos deu uma tarefa especial para esse ano, que é escrever um diário sobre o que fizemos. Já levei um pito dela, então não vou mais dar razão para pitos dela. Então, vamos começar logo de uma vez.

Meu nome é Ludwiga Von Katzwein. Sou a terceira e última filha de Harriet McDonald, uma expatriada inglesa, que teve que fugir após negar os “direitos conjugais” ao Lorde de sua Terra, e do Barão Werner von Katzwein. Parece um nome imponente, mas a verdade é que, à excessão de uma pequena quantia de dinheiro e dos honoríficos, papai nunca teve nada de um Barão: não que ele fosse um beberrão e boa vida, mas se você lia esse título em pensava nele como alguém cheio de não-me-toques, estava redondamente enganado. Ele era um homem forte, risonho e bastante simples. Ele deixa-nos saudade, à mim e minha mãe, pois ele morreu na batalha de Königseig, vítima de uma das bombas de fragmentação das terríveis Fortalezas Móveis dos prussianos. Mamãe chorou por vários dias, mas atualmente voltou a manter uma pequena boutique e salão de beleza.

Eu tenho apenas um irmão vivo, Lukas, que tem 18 anos e atualmente serve como parte do batalhão que fica posicionado no incrível Castelo Falkenstein, construído (diz-se) por magia pelo Lorde Alberon, Rei das Fadas e Aliado de Vossa Excelência o Sereno Rei Luiz, Segundo de Seu Nome, do nosso belo Reino da Baviera. Meu outro irmão mais velho, Thomas, morreu, como meu pai, durante Königseig, metralhado pelos reciprocadores prussianos. Se estivesse vivo, ele teria 23 anos. Foi muito duro para nós.

A nossa casa em si é pequena: embora pareça grande, a casa em Werlangplatz, número 18, é em sua maioria o salão de beleza e boutique de minha mamãe. O andar de cima, que acessamos por uma porta lateral, é um pequeno lar de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Em um dos quartos, minha mãe dorme sozinha. No outro, durmo eu. Não precisamos de uma governanta, camareira ou arrumadeira: eu mesma arrumo a maior parte da casa sozinha, uma vez que não bagunçamos muito. Nossa casa é simples, com paredes sem papel de parede pintadas de carmesim. Minha mãe tem alguns quadros, que ela mesma pintou, incluindo um belo retrato de meu pai e meu irmão Thomas antes de morrerem em Königseig em nome da pátria. Lembro até hoje as últimas palavras que ele me disse, quando tinha apenas 7 anos e estávamos sendo evacuados: “Filha, estamos indo para a batalha e talvez não voltamos, mas saiba que estamos indo, eu e Thomas, pois acreditamos no Rei. Ele não voltaria do nada apenas para cometer as sandices que acusam-o de cometer. Ele voltou dos mortos para manter a Baviera um reino de paz. Se não quisermos que aconteça conosco o que aconteceu com a Holsácia, temos que enfrentá-los, não importando se eles possuem armas poderosas ou maiores números. Mas antes de tudo, estamos indo por vocês duas, você e sua mãe: eu sei que ela é capaz de se protejer sozinha e lhe ensinou bem como se cuidar, mas isso é algo que temos que fazer, em nome de algo que vai além de nossa família ou nação: sinto que nosso sacrifício, caso ocorra, não será em vão.”

Como eu sou? Bem, não sou bonita. Já cansei de ouvir isso dos meninos e das outras meninas. Na realidade, dizem que chego a ser mais menino que vários dos meninos da nossa classe na Escola (Aparência [FRA]). Sou alta demais para minha idade de 12 anos (sou nascida em 24 de Dezembro, na Véspera de Natal do Ano de Nosso Senhor de 1857), sardenta, com cabelos ruivos muito grandes que amarro em chiquinhas. Mamãe diz que eu sou muito desengonçada e não tenho o menor traquejo com dança e nem graça social (Trato Social [MED]), o que ela gostaria que eu melhorasse. Mas é difícil quando você é como eu e é provocada direto pelos meninos.

Não sou exatamente estudiosa (Educação [MED]), mas na realidade não sou má aluna. O meu problema é que eu não aceito desaforo: minha mãe já teve que fugir quando o antigo marido dela na Inglaterra foi morto pelo Lorde da região onde eles viviam porque ele se manteve ao lado dela quando ela negou-se a ceder os “direitos conjugais”, como era a “tradição”. Ela foi acusada de ser a assassina e teve que fugir. Thomas, meu irmão mais velho, na verdade era meio-irmão: eles fugiram por toda a Europa, sempre sendo descobertos por inimigos de mamãe. Foi quando ela conheceu papai em Paris, quando ele estava em missão oficial em nome do Rei. Eles se apaixonaram e casaram: Thomas ganhou um pai, e papai inimigos que o perseguiam. Ele então voltou para a Baviera e pediu dispensas, vivendo de uma pequena livraria, que acabou sendo destruída pouco antes de Königseig por inimigos da mamãe. Ela conseguiu, a muito custo, se livrar do Lorde Guilvere, senhor das terras de Brandwickshire, ao descobrir que ele trabalhava contra a coroa inglesa.

Como disse não sou má aluna, mas não levo desaforo. Por isso, se alguém tenta fazer mal contra mim ou minha mãe, ele pode se preparar para encrenca, pois eu não deixo barato (Coragem [BOM]). Além disso, sei muito bem como lutar se necessário (Briga [BOM]), o que mamãe acabou me ensinando com o tempo. Ela também me ensinou como usar uma espada (Esgrima [BOM]) e atualmente está me levando aos bosques para me ensinar a atirar (Tiro [MED]). Ela me ensina nos bosques pois não quer colocar outras pessoas em risco. Ela é parte de um clube de tiro, o Schützenverein und Selbstverteidigungstechnikensklub für Damen und Herren, o “Clube de Tiro e Defesa Pessoal para Damas e Cavalheiros” mantido por Herr und Frau Schwartz e eu vou junto nas reuniões do clube aos fins de semana no bosque. Frau Elfriede Schwartz é incrível no tiro, e luta muito bem com o florete, sendo treinada na Esgrima Francesa, além de ser exímia na arte de combate francesa chamada Savate, sendo que ela é uma Luva Dourada, uma das melhores lutadoras de Savate do mundo, e também é uma Professeur. Ela tem me ensinado muitas técnicas do Savate e já me deu minhas Luvas Brancas. No futuro, quero ser como ela e como mamãe, mulheres lindas e que sabem se defender muito bem.

Já Herr Zacharias Schwartz era um soldado do Exército do Rei, até dar baixa depois de Königseig. Foi ele quem nos deu a notícia de que papai e Thomas morreram em Königseig. É um atirador de elite, capaz de acertar uma espingarda um lobo a quase 800 metros de distância, e diz ele que em Königseig conseguiu abater vários soldados prussianos com uma espingarda especial que ele usava no exército com uma mira baseada em jogo de espelhos a quase 2 quilômetros. Ele também atira com arco e flecha, e conhece várias formas de luta, incluindo o Savate ensinado por Frau Elfriede. Ele já não é mais tão forte, e os anos estão lhe cobrando seu preço, mas qualquer rufião que o ver apontando uma pistola contra ele deveria ser aconselhado a NÃO TENTAR NENHUMA GRACINHA ESTÚPIDA!!!

Bem, sobre a escola: realmente gosto de estudar, apenas não tenho tino. Não sou como a irmã de meu amigo Werner Füllfederhalter, Sabine, que é bem obediente e boa aluna. Eu gosto de aprender coisas, não importa se é sobre como dizer “maçã” em latim (que é “pomum”) ou dominar o “Chassé Italien“, o golpe mais doloroso do Savate, ao menos para os homens. Frau Hedwiga von Hasten não tem do que reclamar do meu comportamento, ao menos em sala. Não sou desobediente, ao menos não mais que a maioria dos demais alunos, e sou bem tranqüila em sala de aula. Normalmente também sou tranqüila fora da sala de aula, quando ando até minha casa e ajudo um pouco mamãe no salão e arrumo a casa, quando não vou para o salão de dança dos Schwartz, onde durante o dia ela oferece aulas de dança, defesa pessoal e, obviamente, Savate.

Mas o Savate é justamente o que uso quando tenho que me proteger dos rufiões que estudam em minha sala e na escola, e eles são muitos, a começar pela turma do filho do Condestável, Rolf von Metersacher. Ele já até mesmo tentou utilizar a influência do pai dele para fechar o Clube de Tiro e impedir as aulas de Savate. Ele acha que porque eu sou uma menina sou obrigada a aceitar a pouca-vergonha que ele deseja fazer comigo! Ele já tentou abusar de uma menina de rua apenas por isso. Eu não deixei barato: ele teve a honra de ser o primeiro a sentir entre as pernas dele a potência do meu “Chassé Italien” com toda a força que tenho. Ele deveria ter pensado no fato de que já venci o Kaspar Löwe na queda de braço uma vez (Compleição Física [BOM]) antes de sair gritando e chorando como uma menininha. Quem é a menina agora?

Claro que não sou uma bruta que saio espancando todos por aí. Frau Elfriede me ensinou a nunca agredir sem motivo e que Savate deve ser usado para defender e proteger, nunca para atacar. Além disso, sei que assusto pelo tamanho, por ser desengonçada e pelas sardas e pelo cabelo de cor estranha. Por isso, sou gentil sempre que posso, ainda que de uma maneira rústica. Não sou uma daminha como Sabine, mas não sou um monstro.

Meu melhores amigos sem sombra de dúvida são a minha turma: os irmãos Werner e Sabine Füllfederhalter, Bodo Kaspian, Kaspar Löwe, Roland Westendorff, a lista vai longe. Eu não tenho nada para questionar de nenhum deles, desde o pequeno e tímido Bodo até Kaspar Löwe, todos são meus amigos e por eles sou capaz de enfrentar todos os inimigos.

Além dos inimigos “infantis”, por assim dizer, ainda tenho que enfrentar vez por outra caras maus que são mandados pelo Lorde Guilvere contra nós: sempre rufiões, alguns deles orientais estranhos que usam técnicas de combates desconhecidas por mim. Tenho dado conta, sozinha ou com meus amigos, desses caras até agora, mas tenho medo de que eles tentem qualquer gracinha contra minha mãe.

Minha mãe é um capítulo a parte: embora ela atualmente tenha deixado um pouco de lado a parte da luta e se tornado uma “Dama”, existem algumas mulheres de língua ferina que a acusam de todo tipo de baixaria. Talvez algumas das meninas da classe não se aproximem de mim por causa de suas mães, que acham que a minha é uma cortesã que manipulou meu pai para a proteger de um casamento que ela deveria cumprir e não acreditam na história de minha mãe. Talvez por isso elas não queiram que eu visite a casa delas. Mas as famílias Westendorff, Löwe e Füllfederhalter são muito legais conosco, e sempre que estou para baixo posso visitar qualquer um deles. Gosto de medir minha força contra Kaspar e seu pai adotivo, Winter, e gosto de ouvir Sabine tocando piano.

Quanto a igreja: como a maioria de nós bávaro, sou Católica, mas não sou muito de ir à missa. Mamãe não é bem vista na missa, como se ela fosse mais pecadora que a maioria das pessoa… Isso me incomoda muito, muito mesmo, pois ela não é mais pecadora que a maioria. Além disso ela, assim como Madame Luizanne, a governanta dos Füllfederhalter, já fez muito mais pelos demais moradores do nosso bairro algumas das pessoas que apontam o dedo contra elas. Costumo, quando vou à igreja, ir à tarde, junto com os Westendorff. Mamãe já não vai à igreja a muito tempo, pois não consegue lidar bem com a cobrança das carolas. Se bem que nunca vejo elas reclamarem quando estão no salão de beleza da mamãe.

Orgulho-me muito de minha habilidade no Savate. Não me entenda mal: não sou brigona, como já disse. Não sinto prazer em machucar os outros, como o Brüno Nadel. Mas sinto que posso proteger os outros, mesmo sendo uma menina. Não quero machucar ninguém, mas quando tenho que escolher entre uma pessoa querida minha e um estranho que a tente machucar, as pessoas que eu gosto vêm primeiro. Mas isso me leva a me arrepender às vezes por não conseguir ser mais… “menina”… por assim dizer: sinto que as pessoas têm medo de mim, como se eu fosse machucar elas só de encostar nelas. Queria poder ser como Sabine ou como mamãe quando vai aos bailes e compromissos assim… Mas simplesmente não sou assim. Meus defeitos já ficaram meio óbvios pelo que disse: sou muito esquentada e não consigo me controlar quando fazem mal às pessoas de quem eu gosto. Minhas qualidades talvez tenham a ver com isso: tenho senso de justiça, um bom grau de disciplina e sei quando erro.

O que quero para o futuro? Bem, quem sabe (Profissional) me tornar uma Professeur du Savate como Frau Schwartz e ensinar outras pessoas a terem disciplina e não brigarem e (Romântico) encontrar uma pessoa que possa ser um bom esposo e formar um bom lar. Além disso, gostaria de (Social) ver as pessoas que humilham minha mãe pedindo perdão a ela, pois ela fica muito magoada com todo o mal que eles fazem contra ela.

Bem, não tenho muito mais o que escrever. Pode parecer, mas não sou um monstro ou uma tomboy, como dizem os americanos que moram no número 14. Sou uma garota comum, ainda que desengonçada e savateuse. Sou como qualquer garota, que vê “O Lago do Cisne” e acha belo, mas infelizmente esse não é o tipo de vida que eu acho que conseguiria viver.

Resumos:

Sabine Füllfederhalter – Virtuosa

Educação[BOM], Aparência[BOM], Atuação[BOM], Compleição Física[FRA], Vitalidade [4]

Werner Füllfederhalter – Lider de Turma

Tiro[BOM], Coragem[BOM], Briga[BOM], Compleição Física[BOM], Feitiçaria[FRA], Vitalidade [7]

Roland Westendorff – Garoto Inteligente

Educação[BOM], Coragem[BOM], Feitiçaria[FRA], Mecânica[BOM], Vitalidade [6]

Ludwiga von Katzwein – Menina Levada

Briga[BOM], Coragem[BOM], Esgrima[BOM], Compleixão Física[BOM], Aparência[FRA], Vitalidade [7]

Madame Suzette Luizzanne – Governanta e Magista da Ordem de São Bonifácio

Educação[EXC], Feitiçaria[BOM], Coragem[EXT], Trato Social[OTI] Vitalidade [8]

Fräulein Martine von Schnitzel – Musicista e professora de Sabine

Educação[OTI], Atuação[EXC], Trato Social[EXT], Aparência[EXC], Vitalidade [5]

Harriet von Katzwein – Nobre refugiada

Briga [BOM], Esgrima [OTI], Tiro [OTI], Coragem [BOM], Carisma [BOM], Aparência [BOM], Feitiçaria [FRA], Mecânica [FRA], Vitalidade [6]

Frau Elfriede Schwartz – Aventureira e Magista da Ordem dos Cavaleiros Templários

Briga [EXT], Esgrima [OTI], Tiro [BOM], Coragem [EXC], Feitiçaria [BOM], Carisma [BOM], Vitalidade [8]

Herr Zacharias Schwartz – Soldado Intrépido e Magista da Ordem dos Cavaleiros Templários

Tiro [EXT], Esgrima [OTI], Briga [BOM], Coragem [EXC], Feitiçaria [BOM], Carisma [BOM], Vitalidade [8]

Kaspar Löwe – ex-Twist

Compleição Física[BOM], Educação[BOM], Briga[OTI], Coragem[BOM], Vitalidade [7]

Brüno Nadel – Twist e Fanfarrão

Briga[BOM], Esgrima[BOM], Coragem[FRA], Furtividade[OTI], Vitalidade [5]

Anton Bieber – Garoto Inteligente e Fanfarrão

Coragem[FRA], Mecânica[BOM], Educação[BOM], Trato Social[BOM], Vitalidade [4]

Dominic Stahl – Pestinha

Briga[BOM], Compleição Física[BOM]. Trato Social[FRA], Tiro[BOM], Vitalidade [6]

Rolf von Metersacher – Pestinha e Fanfarrão

Coragem[FRA], Carisma[BOM], Briga[BOM], Compleição Física[BOM], Vitalidade [5]

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